25.1.08

O mundo acabou numa terça, às 4 e 20 da tarde. A caneta tinha tinta mas faltou o bloco, ela me disse para ser feliz e eu quase ia sendo. O mundo acabou numa terça, chovia em São Paulo. Na mão esquerda a unha com esmalte lascado e o anel de sempre, e eu precisava cortar o cabelo. Não consegui decifrar o olhar da mocinha no meu decote nem as máscaras encharcadas na vitrine, o samba dissonando da conversa dos encasacados na fila do cinema. O mundo acabou numa terça.
Apesar do saco plástico que eu conscientemente recusei no caixa, apesar das lágrimas da namorada traída na mesa em frente, da sopa com gengibre em pleno janeiro, da vendedora que mandou dar novalgina ao neto que tinha febre. Apesar do CD ainda lacrado na minha bolsa roxa, o mundo acabou, 2 minutos antes de eu descer as escadas e sumir na estação do metrô.

:: kaleidoscópio ::

Renata

São seis horas e ele não vai ligar. Renata sabe que ele não vai ligar. Ela é mulher, ela já nasceu sabendo. São seis horas e quarenta e dois minutos. Ele estava num boteco com amigos quando atendeu o celular, foi muito simpático e disse que ligaria assim que chegasse em casa. Mas ele não vai ligar, Renata tem certeza. São sete horas e vinte minutos e, ciente de que ele não vai ligar, Renata faz seu miojo com o telefone sem fio ao lado, só para garantir. Ele não vai ligar porque quando ele chegar em casa já vai estar tarde. São oito horas e oito minutos. Renata pendura as roupas no varal com o telefone no bolso, por via das dúvidas. Ele não vai ligar porque assim que ele fechou o celular naquele boteco esfumaçado, ele se esqueceu de que havia falado com ela. São oito horas e quarenta e nove minutos. Renata assiste uns enlatados americanos e uns pedacinhos do Fantástico e ele não liga. Claro que não. Ele não vai ligar porque ele é um homem. E homem e mulheres, quando olham para um telefone, vêem o mesmo objeto, mas não vêem a mesma coisa. São nove horas e vinte e sete minutos. E Renata, veterana de muitos e muitos não-telefonemas, sabe que ele não vai ligar. Ela sabe, mas anda com o telefone pela casa. São nove horas e cinqüenta e quatro minutos e ele não liga enquanto Renata, com o telefone em cima da pia, faz xixi, toma banho, seca o cabelo e passa todos os cremes. São dez horas e vinte e um minutos e quando o telefone toca Renata dá um pulinho e sente dor no estômago mesmo sabendo que não é ele. A certeza de que não é ele ligando, estranhamente aumenta a esperança. Renata atende, conversa um pouquinho com sua mãe e libera a linha. Mas ele não liga. São dez horas e cinqüenta e três minutos. Ele não vai ligar porque vai chegar tarde do boteco, meio bêbado, vai estacionar o carro torto na vaga, vai demorar para acertar a chave na fechadura, vai tropeçar no viradinho do tapete, vai largar a camisa amassada no corredor e vai se jogar na cama de calça e sapatos. Renata sabe muito bem que ele não vai ligar, porque homens e mulheres quando dizem que vão ligar, usam as mesmas palavras, mas querem dizer coisas diferentes. São onze horas e treze minutos. Ele não liga, mas Renata dorme com o telefone ao seu lado, a gata preta aos seus pés, um sono bobo, um sono leve,um sono que não acredita em nada, um sono que acredita em tudo. São onze horas e quarenta e dois minutos.

nomes só

20.1.08

Comunicado Interno

Chefinho Rata,

O que você acha de uma reunião do conselho diretor? Todo mundo que está ai na direita?

Pra relembrar os velhos tempos, tomar um chopp, escrever um livro, plantar uma árvore e... pára por aí.

No aguardo de um memorando, abraço,

Henrique.

P.S.: Você pode me dar um vale de 10 rublos? Dívidas do natal, você sabe...

18.1.08

Anúncios de absorventes

Qual o problema dos anúncios de absorventes? São sempre mulheres limpas, relaxadas, sorridentes, rolando em lençóis macios. Todas achando a maior graça em menstruar. Não faz sentido. Fico me perguntando por que eles não fazem bons anúncios de menstruação... Anúncios-verdade, com câmera tremida e as mulheres ensangüentadas, deixando rastros de sangue no chão? Elas iam ter problemas hormonais, puxariam o cabelo umas das outras e ficariam deprimidas, vendo novela e se entupindo de Leite Moça.

loser

17.1.08

Homem é que nem roupa

Outro dia estava conversando com Nat e Maffalda, duas moças muito queridas, e chegamos à conclusão de que homem é que nem roupa. E quer assunto mais caro às mulheres do que homem e roupa?! Não existe!

O tipo mais comum por aí é o Falsificado: acha que é um Valentino, mas está mais para vestido da Renner; no máximo é uma cópia barata feita em Hong Kong. No fundo, se trata daquele Hélio do qual tanto falamos por aqui.

Existem também os de grife: são lindos, vestem bem e toda mulher sonha em ter um. Os clássicos caem bem no corpo por uma vida inteirinha. Mas esses aí, meu bem, não é qualquer uma que põe a mão, não...

Alguns são até roupinhas honestas, que valem o preço cobrado - apesar de não serem, assim, um Armani. Em alguns casos, é preciso fazer alguns ajustes. Mas alguma de vocês ainda tem paciência pra ajustes? Porque eu conheço poucas que têm. É bom dizer que nem sempre estes consertos ficam 100%. Algumas vezes, corre um fio, a pence fica mal feita e aí já era.

E sempre há a roupa emprestada. A peça nem é sua, mas você faz de tudo para devolvê-la linda, cheirosa e sem nenhum fio puxado. Em alguns (pouquíssimos) casos, a roupa fica tão bem em você que você acaba não devolvendo. Só que o mais comum é nos apegarmos à peça e sofrermos muito ao devolvê-la. E me respondam uma coisa: é mesmo sensato dispender tanto esforço com uma coisa que nem é sua?!

De qualquer forma, a conclusão é a seguinte: não importa se a peça é de camelô ou de grife, o importante é se apaixonar por ela. Uma vez que isso aconteça, é capaz de você ir para o Baile do Copacabana Palace com roupinha de feira e achar que está abalando. Afinal, bom senso não vende em farmácia...

Soletiras? No Rio de Janeiro?!?