30.8.07

Nunca me satisfaço com o sexo que assisto, seja na tv, no cinema, na internet.
Ou é pudico demais, suprimindo o essencial, ou é desnecessariamente explícito, o close tão close que você até esquece que na outra ponta tem gente.
Então acontece que só diante de cenas de sexo tenho rompantes de cineasta: fico mentalmente dirigindo atores, imaginando outros ângulos, selecionando trilha sonora e, claro, gritando com o roteirista pra melhorar o enredo.
Não, eu não vejo filme pornô. Mas só porque até hoje não gostei de nenhum.

duas fridas

7.8.07

Mudança de Hábito

Resolvi parar de usar “viado” como xingamento. Primeiro porque não vejo no que a sexualidade de uma pessoa – a não ser que seja pedófila, o que é horroroso em qualquer circunstância, mas, convenhamos, muito longo e elaborado pra se gritar pro energúmeno que acaba de nos dar uma fechada no trânsito - seja intrinsecamente má, ou da minha conta, pra dizer o mínimo. Segundo porque tenho medo de que algum dos meus amigos e conhecidos ache isso ruim, apesar de acreditar que eles saibam que no caso a intenção de xingar é o que vale, e não significado da palavra. Quanto a gente tá realmente revoltada com alguém, até "lindinho da titia" dito com a entonação certa vale por uns dez "fiadaputas", mas enfim, é melhor não arriscar. Em terceiro lugar, porque - como outras pessoas já disseram antes, e bem melhor que eu - nossos xingamentos clássicos andam mesmo um bocado ultrapassados, usando definições que não são mais ofensa nem motivo de opróbrio (palavrão é isso, o resto é elogio) pra ninguém, tá aí a tal "escritora" escorpiana que não me deixa mentir. E em último, porém não menos importante, porque eu sou preguiçosa e “viado” (ou será “veado” ?) é o xingamento bobo e defasado mais fácil de abandonar. Por exemplo: eu sei que existem ascendências bem piores e mais dignas de vergonha do que puta e charreteiro, mas não sei se consigo lembrar de gritar “seu filho de uma apresentadora de TV com deputado” pro moleque que quase arranca meu retrovisor com sua moto antes que ele saia do meu campo de visão; estou bem consciente de que tem muita gente, dos dois sexos, que não só aprecia bastante ir tomar no cu como também chega a recomendar a prática aos amigos e amigas, assim como quem ensina uma nova e deliciosa receita de salada de berinjela, e acho que cada um tem mais é que fazer o que lhe agrada. Mas mesmo que isso faça de mim uma conservadora preconceituosa, ainda me parece uma coisa suficientemente dolorosa e desagradável pra funcionar como ofensa, e além disso é bem mais fácil do que resmungar, pra perua que fura a fila no supermercado e entra com seu carrinho com 854 itens na fila especial pra quem só leva 20, a excelente e muito mais apropriada sugestão da jornalista Milly Lacombe, a realmente tenebrosa “Vá fazer um exame ginecológico completo”. Poderia até acrescentar "e com o espéculo gelado", mas acho que aí também já é crueldade demais. Eu também acho – apesar do que afirma meu lindo gatim, que diz que a culpa SEMPRE é do homem – que ninguém tem culpa de ser traído pelo cônjuge. E sei que é maldade chamar alguém de hipodotado, ou impotente, ou feio, ou malcheiroso (principalmente se for tudo verdade), mas também peraê, não se pode abrir mão de antigos xingamentos favoritos assim, sem mais aquela e sem nada igualmente fácil, rápido e curto pra botar no lugar. É por isso que, apesar de eu não chamar mais meus desafetos, sejam eles antigos e fiéis ou momentâneos de “viados”, sei que isso não vai me tornar um ser humano melhor, nem mais evoluído, e que nem meus pais vão ficar satisfeitos e mais orgulhosos de mim. É que eu me conheço e sei que a cada vez que eu deixar de chamar de viado um motorista barbeiro, um playboyzinho folgado ou um monstrinho malcriado e seu pai pitburro, meu mecanismo de compensação do hábito suprimido vai entrar em ação... e eu vou acabar chamando o quem-é excomungado de corno seboso, escroto e broxa, de pau pequeno e filho de uma vaca sifilítica com um cachorro manco.

Cyn City