22.11.05

Escrever cartas

Eu devia escrever cartas. Cartas escritas à mão são mais demoradas, mas são uma prova de dedicação. Têm o cheiro da pessoa ali. Têm os vincos da caneta, feitos pela força dos dedos. Têm o cheiro, da mão deslizando segurando a caneta. Têm o tempo, em que a pessoa parou de fazer as outras coisas que a vida pede. Ver TV, pagar conta, comer uva, transar ferozmente até quebrar todas as ripas do estrado, ela podia estar fazendo tudo isso, mas tirou um tempo e escreveu pra você. Enquanto escrevia, pensou em você. Em falar coisas pra você.

Coisa bonita que é uma carta. Tanto calor, tanta intimidade, tantos protocolos invisíveis (cidade, dia de mês de ano. Querido destinatário: comigo está tudo bem, e você?, gostaria de dizer que, foi tão legal, como seria bom que você estivesse lá também, finalizando gostaria de dizer, volto a escrever mais vezes, aguardo sua resposta com ansiedade, beijos e abraços, Remetente).

E os pê-esses. P.S....Post-scriptum. Aquilo que é escrito depois do escrito. A carta devia ter acabado, mas você volta com mais uma lembrança, mais um beijo, mais uma vez a caneta corre, pois o texto normal não contém você inteiro, e sempre há chance de dar mais pedacinho de si. E você continua, P.S.: diga a alguém que pensei nele, P.S.: Vou resolver o que você me pediu, P.S.: veja no jornal a minha foto.

Os pê-esses são pequenas provas de amor que ficam no fim da declaração de amor que é a carta, mesmo sendo uma carta de notícias, de amigos, de receitas. Os pê-esses são os escritos que vêm após o que já foi escrito, como se já não bastasse tanta entrega, tanta atenção dada ao fazer da carta, e você continua um pouco mais. Como aquele que se afasta e vira pra dar mais um sorriso, o pê-esse faz a despedida ser mais suave. Sim, está acabando, mas eu não quero que acabe, vamos findando aos poucos.

E quando o pê-esse acaba, e ainda tem mais de você pra colocar na carta, você faz o post-post-scriptum. P.P.S. Pê-pê-esse. Coisa mais linda, é praticamente um bombom com duas castanhas dentro. Mais um pedaço de amor, "me deixe ficar mais um pouco com você, pois essa despedida não é da minha vontade, foi esse dia malvado que inventou de ter só 24 horas, e me deixar sem tempo de te escrever".

Preciso escrever cartas de papel, cheias de pê-esses no final, repletas de quem eu sou e de quem eu quero ser. E vou. E vou.

Beijo grande,

Menina Prodígio

21.11.05

“Imagine um mundo de paz. Imagine um mundo de amor. Imagine um mundo onde as pessoas não sabem o que é a violência. Imagine a gente chegando lá e descendo o braço em todo mundo. Pô, eles iam apanhar pra caramba!"

Aran

Está passando agora, na porta da sua casa...

...a maravilhosa, a saborosa, a deliciosa, a inigualável, a fausta, a portentosa, a exuberante, a melíflua, a ululante, a óbvia, a tântrica, a suprema, a insondável, a inebriante, a esguia, a piedosa, a bíblica, a justa, a sábia, a imaculada, a transcendente, a casta, a hipnótica, a malemolente, a mística, a nababesca, a soberba, a magnífica, a verdadeira , a sensata, a pantagruélica, a augusta, a reta, a parcimoniosa, a helênica, a magnânima, a tremenda, a infinita PAMONHA DE PIRACICABA.

A legítima pamonha caseira com receita mineira.

eu nem queria mesmo

C. A. andará em crise

Namorado é queném arranjar trabalho: quando você percebe que não vai conseguir aquele dos sonhos, começa a ter que decidir com qual dos segunda-opções vai ficar.

Claiello

19.11.05

Correntes

Recebi esta corrente pela caixa de correspondência:

(em letra feia, de fôrma, cheeeeia de erros de português)

"SALVE MARIA A NOSSA SENHORA APARECIDA! QUEM ENCONTRAR ESTA CORRENTE DEVE FAZER 04 CÓPIAS TODOS OS DIAS DURANTE 60 DIAS E CONSEGUIRÁ TUDO O QUE PEDIR À NOSSA SENHORA APARECIDA. UM REPRESENTANTE PRECISAVA DE 50.000 MIL REAIS E CONSEGUIU ANTES DOS 60 DIAS, JÁ O DONO DE UM SUPERMERCADO, POR NÃO ACREDITAR, CORTOU A CORRENTE E PERDEU SEU ÚNICO FILHO. NÃO DUVIDE DESTA CORRENTE. GUARDE O ORIGINAL NA CARTEIRA E AS QUE VAI FAZER JOGUE EM CALÇADAS, PONTO DE ÔNIBUS E ORELHÕES. SIGA EM FRENTE E BOA SORTE!"

Como-as-sim? Meu Deus! Que meda! Que coisa macabra! Nossa Senhora é bem nervosinha, hein? "Filho da puta, cadê meus papéis espalhados pelo meio da rua? Ah, vou matar alguém!" Mas também, a criatura precisar de 50.000 mil conto com urgência! Devia tá envolvido com tráfico de armas, sendo ameaçado de morte. Mas nunca saberemos o que ele faz, afinal de contas ele é apenas um REPRESENTANTE! Representante de quê mesmo? Na primeira corrente que fizeram esse representante tinha nome e até endereço - pra coisa parecer mais convincente, não é mesmo? Mas foi-se passando o tempo, e o cara foi rebaixado para "representante".

Mas do mal mesmo é o dono do supermercado que foi burro de não tirar todos os dias, durante sessenta dias, 4 cópias da corrente de Nossa Senhora e perdeu o único filho. Loser! Tsc tsc. Mas o final é maravilhoso: "quando você tiver terminado a palhaçada toda, saia por aí jogando os papéis nas ruas, calçadas, rios. Nossa Senhora vai amar. E o prefeito também".

Circo sem futuro

Preguiça

queria sair daqui, afora, pra respirar um ar seco, pra tomar chá e mordiscar chocolates. mas não dá, não consigo, a música que toca é tão boa, e a mornidão dos headphones, ah.
portanto discorrerei sobre preguiça.
-//-
preguiça, que gostosa a preguiça. ela sempre se aproxima com cuidado e devagar, muda e pesadíssima, e se instala entre as suas juntas sem fazer nenhum barulho, toda mansa. e deita sobre você como um cobertor enorme, um cobertor de pontas além do alcance do braço, e nem por isso incomoda, qual o quê. o bom da preguiça é que ela é toda gentil e agradável, está presente sim mas não fica falando merda. e principalmente, com a ajuda dela vc é capaz de deixar pra trás os seus problemas inteiros.
- só que de superá-los, não, eles vão continuar ali no seu calcanhar, vão continuar incomodando pra sempre!
não, ué, basta ser preguiçoso o suficiente. vai saber o que há com essa gente, será que não vê que só se encrenca com problemas quem estiver disposto a solucioná-los? se todo mundo fosse preguiçoso, no mundo não haveria problemas, haveria apenas sofás. os culpados das imperfeições da vida são essas gentinhas muito tensas, estressadas, predispostas e solícitas demais, esses proletários mentais aí.

Weblogafin

Coisitas fofuchas

Se eu fosse biólogo, além de fresco eu seria obcecado pela idéia de fazer baleinhas de aquário. Sim, baleinhas de aquário. Eu ficaria rico, e inventaria algo 'superfofo'.
Baleinhas de aquário que espirram agüinha na superfície, por aquele furo que elas têm pra respirar. Elas também cantariam daquele jeito lá que as baleias cantam: "Uõõõ, uõõõõõõô".
E dariam uns saltos de vez em quando.
Não dever ser difícil. Eu, se fosse engenheiro genético, começaria por tentar reduzir o tamanho dos genes. Se os genes forem, assim, pequenos, o animal deve ser pequeno também. Por aí. Não é?
Igualmente boa é minha idéia de criar sereinhas. Sim, pequenas sereias de aquário. Elas vêm vestidas com um biquininho e tocam músicas numa harpa pequetita. As músicas que você ensinar, elas aprendem, que nem um papagaio. Além de tocar uma harpinha, elas cantam com umas vozinhas finiiiiiinhas. Superfofo. E de várias cores.

Se eu fosse físico, além de fracassado eu inventaria a mini-bomba nuclear. Uma biriba nuclear, uma bombinha que você joga e ela explode, formando um cogumelo nuclear pequerrucho de, o quê, 5 cm. Bom para matar barata e ver se ela realmente sobrevive ao cataclisma nuclear.

Radamanto

10.11.05

PÉ DA LETRA

PÉ DA LETRA

Vandalismo, policiais feridos, troca de tiros nos subúrbios, veículos queimados, inocentes executados... enfim, uma onda de violência atinge a França e as autoridades locais não têm idéia do que fazer.

Isso que eu chamo de um legítimo Ano do Brasil na França.

Kibe Loco!

7.11.05

Almoçamos maniçoba (delicioso presente da mãe, dele, paraensíssimo), e começamos a conversar. Falamos sobre o Budismo, e ele me disse que "de acordo com o Budismo, Sidarta Buda conseguiu sair da Roda de Samsara. A Roda de Samsara é uma roda, à qual uma pessoa está amarrada. Quando a pessoa fica de cabeça pra baixo, ela sofre; quando fica de cabeça pra cima, se alegra. A vida é feita do movimento da roda, e o centro da roda é o umbigo - então, uma maneira de evitar o sofrimento seria olhar apenas para o próprio umbigo. Buda se libertou da roda, mas não quis ir sozinho - e quando em vez, reencarna para auxiliar a humanidade a sair dessa roda de sofrimento.

E ele prosseguiu:

- De uma maneira muito menor, eu fiz isso. Sabe, na vila onde eu moro, eu me lembro de muita coisa: eu pequeno indo pra escola, eu saindo cheio de malas, voltando da Faculdade carregando um monte de livro, saindo carregando o pôster-resumo do meu projeto de pesquisa, entrando e saindo com amigo, namorada, namorada que virou amiga, de bicleta... E eu sempre via na calçada as mesmas pessoas. Eu era pequeno, e tinha outros meninos que nem eu. Eu fui crescendo, o tempo passando, e agora eu vejo outros meninos na calçada, que são FILHOS dos meus colegas de infância.(pausa) Eu só tenho vinte anos...E eles também! Eu fui o primeiro de lá que passei no vestibular. (pausa) Quando eu tava comemorando, todo sujo de ovo, tinta, farinha, uma das moradoras mais antigas da vila me pegou pelos ombros e falou -"Obrigada. Obrigada por você ter mostrado pras crianças daqui que é possível. Obrigada a você e sua família, por terem provado que quem nasce aqui, não precisa morrer aqui." Tudo por causa da minha mãe e do meu pai. Eu tenho certeza que eles várias vezes abriram mão de fazer as coisas pra eles pra comprar livro pra mim e pro meu irmão. Tenho CERTEZA. E sabe quando foi que eu percebi o valor disso? (pausa) Quando o ônibus onde eu tava saindo da universidade foi assaltado, e quem assaltou foram dois vizinhos meus. Foi aí que eu vi que, se não fosse a minha mãe, eu podia estar fazendo a mesma coisa. Foi aí que eu vi que eu tinha saído daquela roda...aquela roda que continua levando mais e mais gente que podia ser gente boa. (longa pausa) Um dos dois morreu de overdose...e eu não esqueço o dia em que a avó dele foi lá em casa, pedir pra usar nosso telefone e avisar que ela não ia trabalhar "porque o Fulano morreu ainda agora." Sem um traço de emoção. Ela SABIA que ia acontecer, nem se importava mais. E eu não posso deixar isso continuar acontecendo. (sorrindo) Depois que eu passei no vestibular, mais cinco pessoas de lá passaram... (longa e trêmula pausa) E eu me sinto obrigado a fazer QUALQUER COISA que eu possa pra que mais gente saia dessa roda, desse ciclo, dessa porcaria de prisão que se repete no Brasil. Eu me sinto... Eu me sinto com uma dívida (pausa) eu...eu...(pausa para enxugar os olhos) eu vou ser doutor, viu? Vou sim. "

E você nota que aquele cara na sua frente é movido pela mesma coisa que você e o rapaz franciscano.

E você percebe que se precisasse arrancar a própria pele e vender na feira pra que aquele menino moreno fizesse doutorado, você arrancava.

E você vê que tudo está perdido mesmo, o juízo que você pensava que tinha foi pras cucuias, e você está chorando também enquanto lava a louça do almoço, porque esse amor é a coisa mais forte que já aconteceu na sua vida, e nunca mais você vai ser a mesma.

As Aventuras da Menina Prodígio, agora em versão apaixonada

Xadrez (2)

(Se eu reparei nela desde o começo? Claro que eu reparei nela desde o começo. Como sempre, não é a mulher mais bonita que me chama a atenção, mas a bonitinha que senta ali no canto: aquela cujos olhos sorriem ironias enquanto os lábios proferem platitudes, aquela que promete muito, muito menos do que é evidentemente capaz de cumprir.)

Deve existir um manual de etiqueta pra receber moça-bonita-que-não-se-pode-carcá em quarto de hotel, mas eu não li. Dar um jeito no banheiro, recolher a papelada e os livros espalhados, trocar de roupa (e vestir o que, meu são jizuis? Camiseta e carção, god forbid? Calça sociar e camisa de manga comprida? Terno? Meu uniforme do CPOR? Sapato? Não?) Abro a porta de jeans, camisa, tênis, e ela entra de moletom preto, camiseta branca, cabelos úmidos do banho, sorriso tímido, tabuleiro sob o braço. Não sei se beijo o rosto, dou a mão, faço uma mesura. Quando percebo, estamos no terraço, trocando olhares furtivos, esperando o room service e fingindo discutir astronomia (ela não parece muito convencida de que uma constelação que invento traçando linhas arbitrárias com um dedo trêmulo leva mesmo o nome de “Celestial Chicken”).

(É raro encontrar gente que combina racionalidade incisiva e tato suficiente para apontar os buracos no raciocínio alheio sem despertar a ira dos pamonhas. O que ela fez mais ou menos três vezes na primeira e excruciante meia hora de reunião do grupo de trabalho ao qual havíamos sido ambos condenados, até que o pamonha-mor, como sói aos pamonhas, alfinetou a “mocinha” sugerindo que ela provavelmente não compreendia as complexas questões técnicas envolvidas blablablá. E ela elegantemente nem esfregou nas fuças do sujeito o doutorado em engenharia, comunicado ao mala por um flunkey em cochicho urgente. O pamonha pelo menos enrubesceu, ela fez que não viu, quase todo mundo (eu não) tentou esconder a risada. Servindo o café depois do almoço, conversei com ela pela primeira vez, incrédulo diante dos quatro açúcares que dona engenheira despejou na xícara, enquanto o mala, porque Deus castiga, derramava o chá na camisa. “Can’t stop the gods from engineering”, citei. Ela sorriu com uma discreta pitada de malevolência.)

O garçom chega com um carrinho coberto por toalha branca até o chão, a salada dela uma coreografia pictórica de tomates e verduras, minha omelete protegida por uma daquelas coberturas hemisféricas prateadas de filme dos anos 40. Ele me oferece o vinho para aprovação (e eu não tinha pedido vinho, porque até eu sei que vinho com omelete, ugh.) Merlot tacitamente deixado de lado para o torneio de xadrez, percebo dona engenheira estendendo um olho comprido pro meu prato. Ofereço; rachamos. Ela se apanha raspando a travessa com uma fatia de pão, suspende o gesto no ar, pão em freeze frame a meio caminho da boca. Faço aquele gesto universal de “manda bala” que serve a todas as culturas, ela ri, eu rio. “Tô comendo como estivador”, confessa. “Na minha terra, a gente diz comendo como pedreiro”, comento. “Na minha, se diz comendo como um criador de porcos”, ela complementa. “Comer cas mão tem lá seu charme”, proponho. “Use your hands for everything but steering”, ela sorri.

Touché.

Filthy McNasty

2.11.05

Os filmes que eu não vi — Coleção Chico Buarque (3 DVDs)

Depois de anos compondo músicas que ninguém agüenta ouvir, Chico Buarque lançou recentemente um documentário que fala sobre sua vida entediante. O documentário está dividido em três DVDs: “Meu Caro Amigo”, “À Flor da Pele” e “Vai Passar”. Não pude assisti-los porque meu videocassete só aceita fitas Betamax. E mesmo que aceitasse DVDs, eu jamais teria paciência para assistir qualquer história que precise de três volumes pra ser contada. Dei o documentário de presente para Dona Dolores, minha cozinheira. Ela não perde o Linha Direta e, por isso, entende tudo de vídeos que falam da vida dos outros. Acho que ela não gostou.

Analfabeta, Dona Dolores reclamou que não entende o que Chico Buarque diz. Nem eu. Pudera. Não consigo classificar sua obra como música “popular” brasileira. Popular, pra mim, é quem eu consigo compreender. Chico Buarque usa palavras difíceis e construções complicadas. Chamar atenção para a forma é artifício típico de quem não tem nenhum conteúdo. Ouvir música com uma gramática nas mãos é o fim da picada. Chico Buarque brinca com as palavras como criança brincando com a comida. Ou seja, estraga tudo o que escreve.

Dona Dolores é bastante religiosa. Ficou chocada ao ouvir Chico Buarque cantar como se fosse uma moça. Dona Dolores é idosa e garante que “já viu muita coisa nessa vida”, mas nunca esperou ouvir um “moço tão bonito de olhos verdes” cantar coisas como “ah, esse cara tem me consumido” ou “eu sou menina e ele é o meu rapaz”. Dona Dolores acha que aí tem dedo do coisa-ruim. Alguns dizem que Chico entende a alma da mulher. Em Mossoró, chamam isso de outra coisa.

Em tempos tão sombrios para a música brasileira, quando uma Maria Rita da vida lança seu disco impunemente e jovens desempregados semeiam o pânico tocando músicas do Djavan em bares, Chico Buarque se torna uma terrível ameaça. Em suas centenas de milhares de canções existe um verdadeiro arsenal de más influências para nossa juventude. Ouvir Chico Buarque me deixa à flor da pele. Meu consolo é saber que um dia essa modinha vai passar.

Nota: zero.

Ressaca Moral

1.11.05

Estação Paraíso.

Hoje, no metrô, um cara muito alinhado, pelos seus quarenta, que lia “As Minas do Rei Salomão”, serviu de modelo para uma menina de saia e camiseta pretas e meião três-quartos , que traçou os botões todos do paletó, num bloquinho, a caneta preta.

O cara percebeu o desenho, e fez uma certa pose com os ombros – o que os fez parecer desproporcionalmente largos no desenho, já que ele não era muito alto. A menina não tentou disfarçar, embora a sua franja escondesse os olhos (ligeiramente estrábicos, quando apareciam). Guardou o bloquinho e desceu no Paraíso, antes dele.

Mas ele conseguiu perceber, na parte de dentro do braço direito dela, a tatuagem de uma escada – como se ela esperasse alguém que subisse ali, para fazer-lhe cosquinhas. Chegou feliz, em casa.

Diacrônico

A vida é feita de jumentos

A vida é feita de jumentos

O máximo que se deduzirá de uma reunião de condomínio.

Enquanto arruinavam meu sabá discutindo o desenho da cruz no piso da portaria, concluí que Jesus é nosso guia, porém às vezes ele parece mais um motorista de ônibus. Diz não ter troco pra cem, mas deixa os pobres pularem a roleta, entrarem pela porta de trás.

Este é o Céu que desejamos? Mas não vale a pena reclamar. Não vale, e Arnaldo César Coélet acrescentaria que a regra é clara: não fale com o motorista além do indispensável.

Mas enquanto cochilava na reunião, percebi que a Verdade está mais além: Jesus não é o guia das gentes, é o almocreve. Pois nem em pesadelos tortuosos essa gentalha consegue chegar ao Reino dos Céus. Ou melhor: chegar, consegue, mas entrar é que são elas.

Minha hipótese é que Jesus foi abandonado pelo Pai, e agora precisa de condução pra voltar ao Céu. Fosse ele o pequeno príncipe, laçaria um cometa. Não sendo gayzo, precisou arregimentar um pessoal pra puxar sua carroça celestial.

É uma hipótese. A outra é a castidade ter sido supervalorizada por conta das dificuldades do sexo no espaço. Mas só Deus sabe. De qualquer modo, o Dies Irae bate à sua porta; e entre derrotistas e derrotados, suicidaram-se todos.

dies iræ

O tao de Ivan

citando de memória uma lição de lao tsé:

"Aquele que não sabe, e sabe que não sabe,
é HUMILDE: guie-o;

aquele que não sabe, e pensa que sabe,
é um TOLO: fuja dele;

aquele que sabe, e não sabe que sabe,
está DORMINDO: acorde-o;

aquele que sabe, e sabe que sabe,
é o MESTRE: siga-o."

Fundamentado nesses princípios, enuncio agora o incompossível

TAO DE IVAN

Eu sou quem não sabe que sei mas não sei:
logo: sou CONFUSO: me oriente!

Eu digo sim ao não que não é o não do sim:
assim: sou CONFUSO MESMO: me embebede!

Eu amo quem me ama e quem não me ama:
sou realmente um AMOR: me encontre...

Eu tenho medo do meu medo e ódio do meu ódio:
portanto, finalmente: estou PERDIDO:

cadê você?

Relaxando furiosamente

Lo Dia Internacional de Hablarse Portuñol

(…)

Orkut es indubitavelmiente uña cajita de surpresas, vide este tuépico que encontrei por lá: "Traduça el título de la película". Simplesmiente do carajo:

- "O Homem que Copiava" = "El Hombre que Tiraba Fuetocôpias"
- "Rocky" = "Pedrito"
- "Velocidade Máxima I" = "Mas Rápido No Puesso Ir"
- "Velocidade Máxima II" = "Mas Rápido No Puesso Ir de Nuevo, Carajo!"
- "Meet the Fockers" = "Conozca Los Fuedas"
- "American Pie" = "La Tuerta de Los EEUU"
- "Amnésia" = "El Hombre que No Se Recuerda"
- "Duro de Matar" = "Cabrón Hijo de Puta que Nunca Muerre"
- "Carruagens de Fogo" = "Carrueças Inflamabiles"
- "Karatê Kid" = "Mestre Myagi y El Maricón Karateca"
- "O Homem Nu" = "Lo Pieladón"

(…)

mais em Pensar Enlouquece, Pense Nisso.

Pensamento

Muito fácil de ser perdida e de difícil recuperação, a fé é decididamente o hímen do espírito.

Jesus, me chicoteia!