29.2.04

Previsão astrológica inocente para hoje

Dinheiro: os astros piscam para você
Trabalho: os astros sorriem para você
Amor: os astros delicadamente sorriem para você
Sexo: os astros gargalham e apontam debochadamente para você.

Mulherzices

casa

A casa era maior, a rua, mais larga. Aquelas árvores pequenas, hoje frondosas, assustam-me. As crianças desconhecidas, muitas cores novas em casas velhas. O velho carro marrom ainda continua velho e marrom. Isso não mudou.

A rua estreitou, as crianças mudaram.

Ainda lembro o que aconteceu naquela casa 44. Apenas o portão ficou cinza. Tudo era gigantescamente diferente. E minha infância também.

ÓPIO

28.2.04

meu parto

tentarei contar, mas é enrolado e estou digitando com uma mao so'
tudo começou sabado dia 7/02 almoçamos num restaurante indiano...all hot food e na madrugada de 7 pra 8/02 começaram as contraçoes.
eu esperava por contraçoes fracas e sem intervalos regulares mas as 2:00 eu percebi que eram a cada 10 minutos! acordei docemente o maridao e fomos tomar um lanche na cozinha... era quase 3 da manha e minha mae acodou também, comi e com calma me vesti pra ir p/ hospital pois é meio longe...
chegando la' me fizeram uma monitoraçao e um exame de toque e apesar das dores me mandaram pra casa pois estavam desaparecendo minhas contraçoes e era pra eu ficar 1 hora na banheira de casa, obedeci e realmente, passou, deu 7 da manha e eu pude dormir... até as 9:30, recomeçaram, irregulares e ficamos em casa, relax, bolsa de agua nas costas, passeando, banheira de novo...
até que chegou a noite la' pelas 20 e acharam melhor eu ir pro hospital, a parteira ao telefone disse "no max. te mandamos pra casa" e entao la' fomos... monitoraçao, toque.... e dilataçao porcaria mas o doutor as 22 resolveu me internar pela distancia do hospital e pela ansiedade.
meu marido voltou pra casa, segundo o doutor eu iria levar muitas horas pra dilatar e assim ele poderia dormir tranquilo em casa.
as 2 da manha uma das parteiras me levou pra mais uma monitoraçao e pediu o cellular do Dani pra chamar ele, enfim as contraçoes nao eram tao mixas assim!
e o Dani chegou, super rapido (depois ele me contou que com a minha city car ele deixou umas bmw pra tras na estrada e que talvez tenha multas, ahahah) enfim ele ficou todo tempo comigo na sala de trabalho de parto, me encorajando, vendo as contraçoes no monitor e até ficou entendido no assunto :)
nao sei dizer a que hora, mas acho que eram 5 da manha, me mandaram pra banheira, ficamos eu e meu marido naquele banheiro, sem ninguem enchendo o saco e eu na banheira. Claro que melhorou um pouco, afinal eu pude ficar relaxando, pude andar o quanto quis e so' depois de 1 hora eu fui pra sala de novo... la' perceberam que eu dilatei muito pouco, que droga, e a parteira rompeu minha bolsa... hmmmmmm nao doi nada mas depois de 1 minuto as contraçoes que seguiram eram insuportaveis rapaziada!eu tava nuns 6cm e de repente tava contraindo a casa 2 minutos, nao tinha nem como relaxar, ou melhor, EU nao conseguia, tem gente que com um minino de preparo conseguiria mas eu nao tive um bom curso infelizmente.
Pois bem, passa esse tempo todo, bolsa rota artificialmente e eu estou pra jogar a toalha, sim, eu admito, eu tava querendo me livrar daquela dor... as parteiras sao otimas, me ajudam, so' que chega a hora que eu arrego e pedi a peridural, eu nem tinha pedido antecipadamente mas nao aguentei e pedi, o anestesista demorou, que droga e quando aplicou ja' era meio tarde demais, pois logo em seguida chegou a hora de empurrar e me expliquem: quem empurra anestesiado?? nao, nada disso eu nao tava anestesiada tanto assim, eu tava andando, me coloquei em pé, empurrei, fiquei de cocoras (a melhor posiçao, pra voces que nao sabem!) e nisso tinha-se se passado 2 horas de dilataçao total e nada da Clara nascer. Embora o periodo tenha sido longo, e eu exausta, ela estava otima.
Mais um pouco de cocoras e me levam pra sala de parto pois la' a cama é melhor pra eu poder empurrar, boa idéia, eu tava podre de cansada, sem comer a 2 dias (nem conseguia mesmo) e sem dormir, fiquei de 20 a 30 minutos empurrando ainda... jogando a toalha a cada contraçao, me sentindo um lixo, sem forças, eis que a ginecologista pratica a epsiotomia e pede mais empurroes, eu dou 150% de mim mas nada... e ela usa a ventosa obstetrica, 2 empurroes (menos de 2 minutos) e nasce a Clara, linda, olhos abertos, chorando em menos de 1 minuto....
e vem pro meu colo!!!!! nessa hora nao tinha mais dores, nada, meu marido cortou o cordao umbelical, e eu fiquei com ela no meu peito o tempo todo, esperando a placenta sair, tomando pontos....
depois ficamos na recuperaçao por 1 hora, Clara, Dani e eu. Nunca nos separaram. O banho foi dado nela 1 hora depois mas o resto do tempo ela ficou comigo, mamou em mim com 30 minutos de vida e isso colaborou pro meu leite chegar em 48 horas e até agora eu tenho MUITO leite.
Eu sei que tenho mil coisas pra contar mas vou dizer as mais interessantes:
eu tomei 2 pontos internos e 2 externos. Eu morria de medo de epsio e ventosa, engraçado né??
Pois bem eu tive sorte: a epsiotomia foi muito pequena e necessária para a ventosa. Conheço gente que foi literalmente detonada com a epsio e tomou mais de 10 pontos, e eu posso me considerar sortuda :)
Outra coisa: a ventosa... parece cruel, horrivel etc, mas foi usada por 1 minuto, somente nos 2 ultimos empurroes visto que eu estava podre de cansada, apesar de saber que tinha que dar a luz, estava exausta mesmo.
Eu nao fiz clister nem fui raspada, passaram a gilete sim mas nao fui raspada toda e o crescimento do pelo nao esta incomodando (e teria sido doido se tivessem me raspado).
Eu tive uma otima impressao de tudo, do trabalho das parteiras (sao santas) da medica que assistiu o nascimento da Clara (e fez a epsio e usou a ventosa) e enfim da equipe toda que suportou e ainda me disseram que eu fui forte, logo no dia seguinte que eu morria de vergonha de encontrar alguma delas no corredor e me lembrar que eu queria jogar a toalha...
... até o médico mais carrancudo me deu os parabéns e ainda salientou que o cordao da Clara era curto e isso fez demorar. Eu nao sou médico e agora pouco me importa, minha filha é saudavel e linda, em menos de 15 dias eu ja estou sem dor alguma e to pronta pra outra :)
isso aqui é um relato complicado de se ler pela minha dialetica ausente, sempre que sento aqui estou amamentando :)

meninas gravidas ou recem paridas: amamentem, se puderem, sempre que o bebe quiser, sem horarios.

::pulce.org:: blog da Criss e da Clara :)

26.2.04

O pândego folião, no caminho do baile, ouviu o tuc tuc tuc no vidro quando estava parado no semáforo. Viu o berro e ouviu o berro: baixa o vidro! Pensou rápido. O vidro tinha insufilm e a máscara de lobisomem tava no banco ao lado. Rápido como ninguém botou a máscara e baixou o vidro duma vez só. O ladrão assustou e atirou bem no alto da cabeça, mas ele era assim mesmo.
Perdia a vida mas não perdia a piada.
* * * * * * * * * * *
Os alegres foliões se esbarram em Salvador.
- Desculpa - ele grita.
- Normal, desencana - ela berra.
- Sabe, em circunstâncias outras eu jamais diria isso, mas você parece com minha mulher, que morreu ano passado.
- Sério? Poxa, eu perdi um irmão ano passado. Isso, mas eu ter sido despedida, me deixou mó deprê.
- Que droga. E eu, que apostei uma grana no Corinthians...
- Vixe!
Aí eles ficam um tempo pulando e meditando.
- Por que raios a gente tá rindo, então?
- Ah, acho que é porque é Carnaval...
- Se importa se eu chorar um pouco no seu ombro?
- Não, não, te faço companhia - disse, já chorando.
* * * * * * * * * * * * *
Por essas e muitas outras, Thanks God its wednesday.

é por aqui que vai prá lá?

25.2.04

Infância Perdida

Ela tinha as mãos suadas e um jeito frio de olhar. Sentaram-se à mesa numa mesa distante do centro do mundo. Coca com gelo furado para ele, chope escuro com uma dose de tequila para ela. Um brinde aos velhos tempos. Ele quase não lembrava mais dos velhos tempos. Tinha onze anos. Ela, quinze. Ou dezesseis. As famílias eram amigas e um dia ela o estuprou no quintal de sua casa. Ele sempre brincou desse jeito com ela, chamando a aventura de estupro.

"Adoraria forçá-lo a isso novamente."

Ele engasgou com o gelo ao ouvir a provocação. Tudo nela era provocação. Quinze anos depois ela continuava manipulando-o, como se ele ainda usasse calças curtas e rosto sujo de terra.

O que parecia ser apenas um encontro-casual-entre-amigos-de-infância-que-não-se-viam-havia-milênios se transformou num jogo erótico de desfecho imprevisível. Ela parecia interessada em descobrir o quanto ele se recordava do passado em comum. Ele falava da árvore seca, do riacho, da praia deserta nos invernos melancólicos.

"Infelizmente o passado está morto."

"Não diga isso, é bom ter recordações."

"Não para mim. Eu preciso apagar todas as marcas do meu passado e é uma pena que você faça parte dele."

O revólver saiu da bolsa como num passe de mágica. Tinha silenciador e tudo. Ele não teve nem tempo pra pensar que era uma brincadeira.

Três tiros depois morria, surpreso. Ela não conseguiu disfarçar a profunda tristeza, mas mesmo assim saiu correndo do lugar sem nem olhar pra trás. Alguma coisa ficou perdida para sempre na infância dos dois. Algo sinistro e secreto, que por certo ele nem lembrava.

MegaZona

Hoje vi, enquanto fingia procurar roupas numa loja de departamentos onde entrei para me refrescar, um bebê cabeludíssimo no colo de uma mulher. Parecia ter apenas uns 02 meses, mas já possuía uma cabeleira vasta e espetada. Lembrava um ouriço. Aí comecei a imaginar um corpo de bebê humano com um bebê ouriço no lugar da cabeça. Um ouriço agitado, mexendo todas as suas pernas ( ? ), no colo da mãe, que examina com atenção sandálias cor-de-rosa de salto alto. Ri sozinha.

Estou lendo Henry Miller. E voltei a ter problemas de estômago: tudo que engulo parece se transformar numa bola de bilhar dentro de mim.

Sinto que, se realmente há algo que me impede de alguma coisa, esse algo sou eu. Embora queira sempre colocar a culpa em algo exterior. Sou pedra no meu próprio caminho. Eu ando um pouco cansada de todo esse complexo que chamo (chamam?) de "eu". Para amar e ter compaixão com esse ser que enxergo no espelho teria de me livrar de todas essas... coisas, que acumulei na tentativa de criar uma identidade. Criei uma cela. Teria de partir sem levar mala alguma. É como se eu tivesse me vestido com dezenas de casacos sobrepostos, para parecer alguém aos olhos do mundo, numa tentativa desajeitada de justificar minha presença aqui, mas só agora perceber que eles são pesados e impedem meus movimentos. E se me livrar deles ficarei nua e desprotegida.

O maior sinal de que estou deprimida é andar a esmo e não conseguir olhar nos olhos das pessoas que encontro no caminho. O mundo apodrecendo e eu olhando para o chão.

Um dia isso acaba. Ou não.

Não sei dançar.

24.2.04

Procura-se Namorado

Procura-se sujeito para namoro mesmo, com todas as neuroses que acompanham o dito tipo específico de relacionamento - incluindo-se cenas de ciúmes, gritaria que termina depois com os dois na cama loucamente, bilhetes suicidas, crises de euforia e depressão, e lágrimas, muitas lágrimas de ambas as partes - que possua as seguintes características, por favor anote e vá tickando:

- More longe o suficiente para deixar a relação mais neurótica e interessante mas não tão longe que cause falência financeira por gastos de viagem.
- Não seja nem tão jovem, nem tão velho. Dá-se preferência por uma mistura de total inexperiência com perversões estranhas de grande imaginação, mas tem que ser no mínimo maior de idade porque, sabe como é, a lei existe.
- É necessário, por favor, que tenha um cérebro funcional e em uso.
- Tem que ser ciumento.
- Conhecimentos em mitologia, literatura variada, música pop e bizarra, escritores malditos, poetas estranhos, termos em latim e grego, arte em todas as épocas não são essenciais, mas seriam muito bem-vindos.
- Conheça Shakespeare, e tenha lido pelo menos Hamlet, Othelo e Macbeth, por favor. Inteiros.
- Falar um pouco de francês seria adorável. Não, eu não falo francês tão bem assim, mas eu adoro o sotaque.
- O candidato não precisa ser muito alto nem precisa ser musculoso, mas tem que ter um certo charme. Confira a si mesmo no espelho antes de enviar uma foto. De preferência enviar fotos de si mesmo, não de terceiros. Causa uma certa confusão.
- Tem que ser bonito. O que eu quero dizer com isso? Ah, não dá para explicar, o meu conceito de beleza é no mínimo curioso.
- Pode mentir, mas não exagere. E não reclame quando eu descobrir as mentiras, eu sou boa nisso.
- Eu adoro homens tímidos. Eu não ligo se for do tipo intelectual e retraído. Hum, eu ligo sim, fica mais interessante.
- Goste de brincar de gato e rato. Tenha consciência que o gato sou eu.
- Senso de humor e ironia são imprescindíveis, sarcasmo será suportado, mas sem exageros.
- Deixe a mãe fora disso.
- Tem que ter telefone. Celulares são bem vindos. Telefone fixo é imprescindível. Em caso de interurbano, a conta é sua.
- Precisa ter em mente que eu sou uma mulherzinha insuportável sim, não é charme meu, não. Je suis adoráble, mas je mords, you know.

Alguém se habilita?

maiores informações com DaniCast

Sou dona de uma sensibilidade exacerbada e exagerada, o que não facilita minha vida muito não.
Fico num estado tão deploravel quando me tratam mal inesperadamente que não consigo responder nada,
só sei fugir e ir para um canto me sentindo miserável. Ontem, por exemplo, fui num café perto de casa que
oferecia acesso a internet gratuito aos clientes. Ao que parece eles resoveram cobrar a partir dessa semana.
Eu não notei o aviso, acostumada com a antiga regalia e comecei a usar o computador.
Umas das atendentes vei e me perguntou de uma forma tão brusca e mal educada, 'Vc pagou para usar issso?',
que me senti horrivel e culpada na hora. Havia sentado naquele momento, mas só quis pagar o tempo mínimo
e sair dali o mais rápido possível. Nada me atinge mais do que rudeza desnecessária.

Naked Emotions

– Posso levar seu coração comigo?
A pergunta foi feita à queima-roupa, e o pegou de surpresa. Ele quis explicar que bem que gostaria, mas acontece que seu coração estava dormindo, e não sabia se seria um bom negócio acordá-lo agora. Porém, quando ia falar, viu que o danado do coração já estava encarapitado no ombro dela, olhando-o com aquela cara de "Deixa, vai...". Então apenas respondeu:
– Leva, ué.
O coração deu uma pirueta de alegria.

Jesus, me chicoteia!

Estou sentindo uma vontade enorme de sair correndo.
A preguiça é maior que a vontade e as costas me lembram que preciso me dar descanso.
O peito parece caber dentro de uma mão fechada. E agora a sensação é exatamente esta.
Cada vez que respiro mais fundo, o aperto é maior.
Passei o dia em casa, alternando televisão e computador. Não tive paciência para leituras.
Tem dias, como hoje, que eu não tenho muita paciência para coisa alguma.
Já mencionei que as paredes do apartamento são cinzas?
(...)
Tenho uma âncora no peito que me prende ao chão enquanto todo o resto só falta voar.

Silenzio, No hay banda

Um final de semana perdido. O mais chato vai ser ficar pontuando esse texto depois.

Algo no meu utero nao vai bem, eu sei, eu sinto. Ou seria na bexiga. So sei que nao aguento, levantar de cinco em cinco minutos, toda hora aquela mijadeira. Cansaco. Eu sinto que roubaram minha alma. em outra epoca, uma frase boa que me ocorresse, assim, ao deitar na cama, eu levanttaria correndo amaldicoando o fato de nao encontrar uma caneta pra anotar tudo na hora. Agora deixa, amanha eu me lembro, agora eu estou tao cansad....

Um final de semana perdido, nao tinha um lago, nem a silhueta da cidade, voltando do mercado. Nem coloquei o pe para fora. Fiquei com medo. Um mal que assola. A vizinha ta morrendo. 48 anos, nem parece, emagreceu horrores, deu derrame, pressao alta, voce sabe como funciona. A pessoa cai em depressao, chora, se apavora. Senta no sofa, as peles caem. Fica branca. Nao reconhece mais os parentes. Cada suspiro ja e a morte. Gozando da tua cara. olha eu tou aqui viu? So pra voce nao esquecer.

O outro, diz que ta ficando louco. A mulher atravessou a rua pra contar. Nao acredito nela, vejo ele semopre no portao, ate conversamos dia desses no caldo de cana, e quase que todo dia, na minha volta do trabalho. Se ele ta louco, deve ser culpa daquela megera. Constato loucura sim, mas da parte dela, pois enquanto digito essas linhas, posso ouvir nao so o sino dos ventos vindo de algum quintal, mas tambem os gritos e desaforos de uma mulher que viveu apenas para o tanque, a pia e o fogaol.

Maldito o tempo que as mulheres achavam que casamento era profissao, ou tinham a ilusao de que o casamento ajeitava a vida do cidadao.

Tres dias sem lavar o cabelo, tres dias. Ninguem ta me vendo, eu nao tou vendo ninguem, eu nao estou sendo tocada, nao me tocam, eu nao me toco. Alguem aqui vai secar. Nao sem antes apodrecer.

E a mulher do outro? Uns diziam que era negra, e negra e dai, quer coisa mais comum que branco com preto? Outros diziam que era japonesa. A vo de um fulano jurava de pes juntos, ela e bonita e japonesa. Os filhinhos bem branquinhos, loirinhos, puxaram o pai. Em casa diziam que era negra do cabelo ruim, baixinha e nada bonita. Um dia eu vi na foto, a primeira filhinha bem loira. Hoje eu vi. A segunda filhinha bem pretinha. A mulher? Nada de negra, nem de japonesa. Asiatica, isso sim. Com direito a febre e tudo. De onde sairam aquelas bolachas que ela deve chamar de bochecha? E as sanguessugas, que no minimo, ela chama de sombracelha? E alguem pode me explicar como um casal conseguiu uma mistura tao feia?

Tem dia que nao da pra colocar o pe pra fora de casa.

Veja agora Celebridade. Depois, Big Brother Brasil.

essa Maldita Mulher

Mudança de rumo

Para quem anda se perguntando o porquê da minha decisão de largar meu emprego sem nenhum outro à vista, eu explico.

Decidi que não quero mais trabalhar como programador. Vinte anos fazendo isso já é o suficiente. Vou mudar de profissão.

O que eu vou ser? Por enquanto, vou tentar a sorte como ferreiro ou, mais especificamente, como farrier. Vou trabalhar com a forja, martelo e bigorna, fazer ferraduras, ferrar cavalos... essas coisas. Já arrumei um mestre ferreiro para me ensinar a profissão, começo a aprender na segunda-feira da semana que vem.

Com a minha mudança para ferreiro, portanto, a divindade oficial deste blog passa a ser o barra limpa, o grande Thor.

Entre Quatro Estações

Pesadelos

Ando tendo pesadelos. Coisa grave mesmo. Acordo de madrugada e dou um gritão. Alto mesmo. Coisa de louco. Acordo a rua inteira e a namorada. A namorada, aliás, grita também, de susto.

Estresse. As últimas semanas não têm sido fáceis. Acordo, mal tomo café e venho direto para o computador trabalhar. Não é nada fácil editar um livro, ao contrário do que se pensa por aí. Não só é preciso ter cuidado extremo com o texto como também é necessário conciliar conflitos de interesses os mais diversos.

O pesadelo não é novidade e sempre surge em momentos assim de tensão máxima. Quando eu morava ainda em casa de papai e mamãe, no finalzinho da faculdade, também gritava e acordava a casa toda. Não entendo muito de psiquiatria e tal, mas chego à conclusão óbvia e vulgar de que o grito é um modo que meu organismo encontrou de se livrar das tensões acumuladas.

Sobre os pesadelos, já ouvi de tudo. Minha irmã, carola que só ela, disse certa vez que eu estava possuído pelo demônio. Oquei. Muitos leitores haverão de concordar com ela. E autores criticados negativamente também.

Pelo menos antigamente eu assustava somente as pessoas da minha família. E depois, quando passei a morar sozinho, assustava com meu berro apenas a mim mesmo. Acendia a luz e ficava ali, olhando a parede, temeroso de que aquilo que não fosse um pesadelo. Duro é que agora eu assusto também a namorada. Que fica lá, tremendo toda, enquanto eu volto a dormir pesadamente.

O pesadelo desde sempre assumiu um padrão. O sonho é o de sempre. Tem a ver com uma prisão ou, mais raramente, é um meta-sonho no qual eu me percebendo prevendo o grito. Este é o do tipo mais engraçado. Porque eu sei, em sonho, o que vai acontecer. Mas quando acontece eu me surpreendo.

Uma vez eu quase fui a uma daquelas clínicas especializadas em distúrbios do sono, para ver qual que é da coisa. Isso porque o pesadelo tem um sintoma físico: os braços dormentes. O médico queria cobrar algo em torno de R$ 2 mil pelos exames. Declinei. Até porque, levando em conta que eu durmo abraçado ao travesseiro, não precisa ser especialista para deduzir o porquê de os braços ficarem dormentes.

Tem vezes que acordo com o berro e fico lá, sentadão na cama, esperando o medo passar. Medo? Minto: é pavor mesmo. Do quê? Não sei, não tenho a menor idéia. Medo de bicho-papão, acho. Medo.

O Polzonoff

cachorros imigrantes

Estou vendo 24 vultos da minha janela. "No campo de concentração de Majdanek, Kobyla chutava mulheres e crianças com uma bota cheia de ferragens." Meu tio chega da rua e põe Maysa na vitrola. Ele entra no banheiro e vai fazer a barba. Deixa a porta aberta. Eu fecho a revista dos anos 60 e o sigo pelo corredor do apartamento. O que é que foi, Fu Manchu?, ele me pergunta, porque tenho os olhos rasgados. O papa é judeu?, eu pergunto na ponta dos pés para vê-lo no reflexo do espelho. Não, que idéia. O papa é católico, como nós. Os judeus têm um papa?, eu insisto. Não, quer dizer, sei lá. Por que essa preocupação agora? É que se os judeus tivessem um papa nada disso teria acontecido, não é? Nada disso, o quê?, ele quer saber. O genocídio. Ah. Onde aprendeu esta palavra? Na revista. Uma gota de sangue escorre do rosto dele e se mistura com a espuma do creme de barba. Você foi à praia hoje?, ele muda de assunto. Não, não fez sol, eu digo, sentando na tampa da privada. Teu pai chega quando da viagem? Não sei, mamãe deve saber. Onde ela foi? Saiu. Foi na Colombo comprar um remédio. Vovô era italiano? Hum, hum. Ué, mas ele não nasceu na Argentina? Foi, mas era imigrante. Ele veio da Itália com os pais e nasceu na Argentina, entendeu? Então ele conhecia o papa? Chega dessa conversa de papa, o que deu em você? Olha, o disco acabou. Vai lá na sala e bota o outro lado pra mim, tá bom? Tá bom. Em vez de virar o disco, eu o guardo na capa e pego outro. Dolores Duran. Meu tio entra na sala e eu me agarro no seu pescoço com cheiro de loção pós-barba da Atkinsons. Ele me ergue do chão e do seu colo olhamos para o mar. Na beira da praia uma mulher corre ao lado de dois cachorros. Sozinha. Quer dar uma volta na praia? Mas está chovendo, eu digo, virando meus olhos rasgados para ele. E o carro velho do seu tio serve pra quê? Nós dois rimos e a mulher na praia some entre os prédios.

Prosa Caotica

Procura-se mais uma Alessandra





Eu já contei que eu tenho duas Alessandras que se passam por mim de vez em quando? Pois é, eu tenho. Por pura obra do destino. Eu juro! Meu ego não é tão afetado ao ponto de transformar o nome em um critério de seleção. Aconteceu! E que fique claro que elas são de verdade, não ramificações da minha personalidade. Elas não só existem, como me ajudam pra cacete.
Uma delas é a minha Alessandra do coração. A figura que eu vejo todo santo dia, que eu ponho meus braços e pernas no fogo, que me irrita, que me acalma, que atende telefone pra mim quando eu não posso ou não quero, que permite que eu durma o pouco que eu consigo, que organiza minha casa, meus dias e contribui para que eu viva o tiquinho da paz que eu priorizo. Ela, graças a todas as nossas diferenças, é a parte diária que me falta na vida. Sem ela, eu viveria em um caos maior do que o da minha alma.
A outra Alessandra é bem mais esporádica. Falante e achando graça da seriedade com que as pessoas trabalham, vira e mexe, ela atende pessoalmente e no meu lugar, clientes e portadores desligados que eu teria que ver uma vez na vida e, talvez, outra na morte.
Não combinamos nada, apenas temos o mesmo nome e trabalhamos juntas. Mas, como três Alessandras juntas é uma coincidência dos diabos, nos tornamos uma só aos olhos e capacidade de compreensão de muitas pessoas. No final, foi uma coincidência extremamente feliz, porque eu presto serviços para algumas empresas que ficam impressionadas com o fato de "eu" me desdobrar para atendê-las. Mal sabem elas que eu sou três. :-)
Isso hoje é uma dádiva - eu não deveria reclamar de mais nada, eu sei. Mas, infelizmente, nenhuma delas pode responder e-mails por mim. Sou uma privilegiada por ter estas duas mulheres na minha vida, mas sou uma eterna insatisfeita. Preciso urgente de uma Alessandra pra responder e-mails e me livrar dessa tarefa insana e que tanto me consome.
Saudades dos tempos que as pessoas resolviam tudo por telefone. Minha vida era menos estressante e eu gostava muito mais dos seres humanos. Por que será que, na maior parte dos casos, pessoas jurídicas são melhores falando do que escrevendo? Bah!
Será que existe uma Alessandra boa de responder e-mails por aí? Ultimamente, tô aceitando até para responder alguns e-mails pessoais. Seria o meu paraíso.

Amarula com Sucrilhos

22.2.04

Eu não tenho mais solução mesmo: faço esteira ouvindo Mutantes no disc-man e ainda tendo fantasias eróticas com o saradinho de aproximadamente 17 anos que ocupa a sala de ginástica no mesmo horário que eu...

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Discussão de relacionamento pelo messenger é o último grau da civilização ocidental...

garotas classe média

21.2.04

100 COISAS SOBRE PILO

1. Primeiro de tudo: eu sou muito gostoso e gosto de presentes.

2. Eu me chamo Budofolus Un Nanan, mas pode me chamar de João Paulo.

3. Eu não assisto desenhos animados, mas estranhamente eles aparecem nas minhas cuecas.

4. Minha preferida é uma com o Piu-Piu boquiaberto. Ele provavelmente está chocado porque eu estava com gases, ou porque eu sou promíscuo e arreio a cueca com facilidade.

5. Estou brincando, não sou promíscuo não. Sério. Você é o meu primeiro.

6. Apesar de ter uns 50 vidros de perfume, eu ainda tenho tendência a feder. É que é difícil escolher um que combine perfeitamente com o meu odor natural de desespero.

7. Eu tentei ser um groupie uma vez. A banda não deixou.

8. Eu tenho pés pequenos.

9. A vida certamente vai ser uma bosta quando meus pais morrerem, porque eu não sei fazer porra nenhuma.

10. Eu gosto de cachorros. Não daquele jeito.

11. Eu não falo espanhol, mas eu sei quando estão me chamando de Viado Filho da Puta.

12. Eu desejo secretamente que meu sobrinho seja gay, porque eu tenho senso zero de moda.

13. E é porcausa disso que eu amo meus amigos. Outro dia eu saí na rua, juro por Deus, com uma camiseta amarela, uma bermuda marrom, meias azuis e tênis pretos. E mesmo assim, meus amigos ainda andaram comigo em público.

14. Eu tenho 22 anos.

15. Uma vez alguém me disse que eu poderia fazer tudo que quisesse. Eu uso essa desculpa frequentemente.

16. Uma vez um cara lindo me disse que me amava. Mas daí o diretor gritou "Corta!" e eu voltei pra realidade.

17. Ás vezes quando eu estou andando, eu ouço "O insuportável voltou!"

18. Ás vezes quando eu estou andando, eu ouço "Pare de andar tão depressa, as outras personalidades têm asma!!"

19. Ás vezes meus olhos saem vermelhos nas fotos. Alguns dizem que é comum. Eu digo que é o Satã.

20. Nas boates, a desculpa que meu namorado acabou de me dar um fora me dá UM MONTE de bebidas de graça.

21. E com a aquisição de UM MONTE de bebidas de graça, eu consigo arrumar um MONTE de novos namorados rapidinho.

22. Quando eu era pequeno, minha mãe me disse que tinha certeza que eu iria me tornar um homem jovem, lindo e bem-sucedido. Pois é, nós ainda estamos esperando por isso.

23. Se vc está mesmo lendo isso, eu vou contar um segredo em um minuto.

24. Quando eu passo 45 minutos trancado no banheiro, eu não estou masturbando, cagando ou me maquiando. Eu ia dizer o que eu faço mas, hey, sempre tem que haver um mistério.

25. Você não me aguentaria.

26. Ninguém me ama. Eu sou inamável. Talvez eu devesse tratar os piolhos.

27. Meu amigo do Malásia jura que conhece um cara chamado Spaghetti.

28. Quando eu estava no colegial, eu sentia atração por um professor. Ele nem era bonito, mas juro que eu quase gozava toda vez que ele dizia "fluxograma".

29. Uma vez eu tirei sarro do meu hamster morto aqui no blog, e fui chamado de insensível. O que acontece é que eu uso humor pra lidar com as merdas que me acontecem. Meus amigos sabem disso. Eles sabem que condolências são bem-vindas, mas que eu preferia muito mais que algum deles deixasse um comentário aqui se passando pelo meu hamster morto.

30. Eu odeio fazer compras. Vou escrever de novo só para deixar claro: Eu odeio fazer compras. Odeio.

31. Claro que eu adoro sair de uma loja com as mãos cheias de sacolas, e usar roupas pela primeira vez, mas é justamente o processo de procurar o que comprar que meu corpo rejeita como leite vencido.

32. O Segredo é: Meu nome verdadeiro é Petrúcio e eu gosto de cachorros daquele jeito.

33. Eu costumo dizer que o meu filme preferido é a trilogia do Senhor dos Anéis, mas na verdade é Ace Ventura 2. "Excuse me, your balls are showing." Simplesmente brilhante.

34. Uma vez eu fiquei tão bêbado, que acordei às 5 da manhã na minha cama, e fiquei uns 10 minutos analisando a questão: "Será que levanto e faço xixi, ou mijo na cama mesmo?"

35. Depois ainda fiquei outros 10 minutos literalmente balanceando os prós e os contras: "Ok, vai ficar quentinho por um tempinho..."

36. A propósito, eu não acho que vou conseguir terminar isso se eu continuar bebendo vinho.

37. Na 4ª série, Marcelo Souza teve diarréia na festa de aniversário de Karen. Todas as crianças ao redor dele gritavam: "Marcelo cagão! Marcelo cagão!". Triste, Marcelo sentou no degrau da escada, abraçou suas pernas e chorou. Foi quando eu decidi que o amava.

38. Eu gostaria de adiantar o tempo até o começo das minhas aulas, mas infelizmente minha vida não veio com um controle remoto.

39. Essa foi a coisa mais sem graça que eu já escrevi na minha vida, e nem foi pra aula de Literatura.

40. O que a falta de sexo faz comigo: William Bonner está notavelmente menos sexy. Carlos Nascimento, bem mais.

41. Sensação que eu tenho toda a vez que eu mando uma msg para alguém no ICQ.

42. Alguém uma vez me disse que eu sou tão egocêntrico que eu iria fazer uma lista com 100 coisas sobre mim e colocá-la na Internet, achando que as pessoas realmente fossem ler. E olhem, eu fiz.

43. Meus ídolos: Sarah, Tori, Magic Paula, Dali e NatashaRasha.

44. Não é engraçado ter uma drag queen entre os seus ídolos?

45. Eu sou muito emocional e pouco ético, e por isso eu sempre acabo falando alguma merda. Outro dia eu entrei numa discussão sobre alcoolismo e quando percebi, eu estava gritando "FODAM-SE AS VÍTIMAS! EU QUERO BEBER E DIRIGIR!"

46. Eu já pensei várias vezes em falar pros meus pais que sou gay, mas pra alguém que levou 20 minutos hj para decidir se comia queijo ou presunto, essa não é das tarefas mais fáceis.

47. Eu fui atropelado por um ônibus uma vez. Eu sei o que vc está pensando, se eu fui atropelado por um ônibus, eu deveria ter morrido. Bem, eu morri. E vou te dizer: o Paraíso não é tudo isso. Música chata, nuvens fofinhas e pentelhas nos seus olhos, e de alguma forma, Renato Russo conseguiu chegar lá.

48. Eu sou de Leão com ascendente em Escorpião. Em outras palavras: eu sou bom de cama, e me gabo por isso.

49. As pessoas riem de mim porque eu sou diferente, e eu rio delas porque elas são todas iguais.

50. Minha próxima meta é entrar num curso de cerâmica erótica. Então, assumo que vc já saiba que vai ganhar um pênis de aniversário.

51. O meu primeiro sintoma de embriaguez é dormência na boca.

52. Quando eu brincava de polícia e ladrão, eu gostava de ser o Rambo e matar todo mundo.

53. Minha nova filosofia de vida diz que é melhor morrer de vodca do que de tédio.

54. Eu sei citar todos os estados brasileiros, com uma pequena ajudinha.

55. Eu tenho amigos esquisitos maravilhosos.

56. Uma vez eu fui pra São Roque com uns amigos e tava tão frio que, de alguma forma, eu comecei a esfarelar-me.

57. Eu gosto mais do Patrick do que do Bob Esponja.

58. Gentalha, gentalha... prrrlll...

59. Eu aprendi que existem duas coisas que realmente não devemos mexer: colméia e amores passados, mesmo que sejam de infância, bem inocentes e que nunca tenham, de fato, acontecido.

60. Uma vez eu cancelei o meu pedido porque a atendente da pizzaria não quis me dizer o que o entregador estava vestindo. Não que eu quisesse realmente saber, era mais uma questão de poder.

61. Eu sou descendente de dinamarquês.

62. Minha caixa postal do celular é engraçadinha, então eu recebo várias mensagens com risadas, e nunca sei quem ligou.

63. Meu sobrinho está aqui do meu lado gritando coisas que eu acredito que sejam obcenidades em alguma outra língua. Eu estava achando que era italiano, mas agora pouco ele soltou um HOLA!

64. Uma vez recebi um e-mail dizendo: Eu assisti ao Rei Leão, eu escutei os Beatles, e eu li o seu blog. Eu posso morrer agora. É, isso é mesmo tudo.

65. Eu jogo vôlei e basquete razoavelmente bem. Bem, na verdade o "100 coisas" original dizia que eu jogava muitobem, mas alterei levando em conta minhas férias esportivas de 2 anos.

66. 6. hihi

67. No colegial, as aulas de laboratório eram minhas preferidas, porque eu usava um avental branco e me sentia um personagem de E.R. Tipo quando eu carregava uma xícara de café e andava bem rápido, sabe?

68. Eu decidi ser pobre porque é muito mais prático.

69. Eu sou canhoto.

70. Eu não ligo muito para moda, geralmente uso o que as pessoas compram pra mim. E eu confio no gosto dessas pessoas. Se elas disserem que é a minha cara, eu posso estar vestido de Chapolin Colorado, que eu vou achar que estou arrasando.

71. Aliás, moda de roupa não me incomoda. O que me irrita é moda de comportamento.

72. Eu já comi testículos de leão.

73. Você leu certo. Eu já comi as bolas de um leão.

74. Eu costumo me masturbar ouvindo "O Fortuna". É demais, você devia tentar.

75. Eu adoro as fotos antigas da minha família. Quando eu tiver minha própria casa, eu vou decora-lá com essas fotos. A princípio, eu pensei nas paredes do banheiro, mas eu acho que é muito pressão tentar cagar com sua família inteira olhando para vc.

76. Pensando melhor, no quarto também não é uma boa idéia.

77. Eu sou horrível em terminar com as pessoas. Eu escrevo cartas. Eu envio e-mails. Eu inverto os fatos e faço a pessoa terminar comigo.

78. Eu não sei por que, talvez eu precise do sentimento de rejeição.

79. Se vc me ligar e me acordar de madrugada, eu vou achar que as coisas que digo são bem engraçadas. Provavelmente mais engraçadas que elas realmente são, e definitivamente mais engraçadas que vc acha que elas são.

80. Eu realmente ODEIO quando as pessoas começam suas frases com "Eu sou o tipo de pessoa que...", mas se eu tivesse que começar uma frase assim, eu seria forçado a dizer que sou o tipo de pessoa que corta o lábio sem querer tentando remover um pedaço de carne no dente com um canivete, e que só percebe minutos depois, quando o sangue está pingando na camiseta.

81. Palhaços geralmente me deixam tristes. Tanto o tipo que anima festas quanto o tipo que eu namorei.

82. Eu procuro beleza nas coisas simples da vida. É como enxergar no ato de mancar, não a falha, e sim o esforço para andar.

83. Eu procuro alguém pra ligar quando estiver triste, e pedir para vir aqui me abraçar.

84. Quando eu gosto de alguém, eu tenho mania de fazer um monte perguntar absurdas.

85. Eu conheço as pessoas mais legais acidentalmente.

86. Eu realmente devia considerar ir mais a praia, porque eu saio em todas as fotos parecendo um cocoon.

87. Eu comprei a fantasia de Bob Esponja pro meu sobrinho usar nesse carnaval. Ele não gostou muito... o que é uma pena, porque não há nada mais engraçado do que uma esponja brava.

88. Se vc é o cara que ficou me enchendo o saco ontem, o meu número de telefone realmente não é 9000-0000. Eu menti.

89. A matemática é simples: Pilo + Vodka = Mau. Muito mau.

90. Eu decidi deixar de perder meu tempo tentando mudar os homens. Não é extremamente ridículo achar que alguém pode ser de certo jeito pela sua vida toda, e de repente, vc e sua cueca fio-dental irão fazer alguma diferença?

91. Vc acha mesmo que eu preciso de tratamento?

92. Okay, "Dancing Queen" realmente precisa parar de tocar dentro da minha cabeça.

93. Minha música favorita é Fumbling Towards Ecstasy da Sarah.

94. Aliás, todo o album, de mesmo nome, apesar de sua natureza depressiva, me trouxe lucidez e paz. Cada letra dessa música se conecta comigo, e me ajuda a achar "peace in the struggle to find peace and comfort on the way to comfort".

95. Meu celular agora toca la cucaracha. Me faz sentir feliz.

96. Eu não gosto de falar no telefone.

97. Eu sou a pessoa mais indecisa que eu conheço. Eu quero ficar sozinho, mas eu quero amar. Eu quero ser independente, mas eu quero precisar das pessoas. Eu quero ser o mesmo menino inocente que eu sempre fui, mas, ao mesmo tempo, eu quero ser mais velho e mais sábio.

98. Eu gostaria de ser mais decidido.

99. Eu amo todos vocês. Mas, especialmente, eu amo você. Você que sabe que é você, não um você generalizado, mas um você específico e especial, porque você sabe que você é você e é isso que importa.

100. Ok. Eu nunca mais faço uma coisa dessas enquanto bebo. NUNCA.

Pilo

A FACA

Peguei a caneta como pesada faca
e sujei papel com uma lástima de molho

mastigo o milho dos dentes amarelos
e canto a carência dos novos parênteses
perdidos entre vários rumores

faca isolada é muda
esmola amola miúda a gaiola

cortou o sol destruidor
cortou o pensamento rente
cortou os pés da mesa
cortou rabo de cachorro
cortou o cimento
ao meio o amor ciumento

Peguei o papel e limpei como lenço
seus lábios da lástima de molho.

fao/99

20.2.04

Se a igreja católica pretende mesmo disputar otários com as evangélicas, neopentecostais e outros cassinos, precisa cuidar de sua comunicação. Hoje passei na frente de um outdoor católico: JESUS, FONTE DA ÁGUA VIVA. Cazzo, o que isso quer dizer? Água viva? Aquele bicho-geléia que queima o pé da gente na praia? E CORDEIRO DE DEUS, que vem escrito naquele papel distribuído na igreja? O que significa? Por favor, não me explique. O cara que entra pela primeira vez não entende nada e cai fora. Ou fica lá repetindo palavras incompreensíveis. É por isso que se chama rebanho. Na porta de saída, depois da água benta, dá 10 centavos ao fudido que ali faz ponto e aplaca a pesada consciência. Até o próximo domingo, depois de passar a semana inteira cagando para o próximo.

catarro verde

A tristeza chega lagarto, botando sua língua roxa pra fora, caminhando lenta, rebolando verde e ameaçadoramente porta adentro. Ela quer minhas crias, fareja subreptícia as flores murchas da semana passada, os restos de comida na pia, as lágrimas secas choradas em segredo. Ela me conhece, sabe dos meus viveiros vazios, das minhas jóias falsas, da página rasgada daquele livro. Ela me espreita com olhos em lâmina e eu, minguante, vou morrendo aos pouquinhos.

Não Discuto

Na net ninguém esta a salvo.

Eu passeava por uns blog's e vi uma foto de uma pessoa que nunca imaginei pudesse estar no lugar onde a foto foi tirada. Como sou um ser humano que não deixa nada de graça, liguei para essa pessoa e indaguei se ela estaria no dia tal em determinado lugar, e essa pessoa antes de responder perguntou como eu poderia saber? Eu disse que minha cartomante é do caralho e, diante desse argumento irrefutável, confessou que esteve nesse determinado local e  perguntou se eu poderia marcar uma hora na minha cartomante. A pergunta, será que eu marco?

veleidade

19.2.04

Bico calado, toma cuidado, que o homem vem aí

No caminho da estação do trem até o escritório tem uma floricultura. A primeira vez que passei por ela, não percebi nada de incomum, apenas flores, arranjos, baldes cheios de rosas, gérberas, lisiantus e afins. Na segunda vez, achei curioso, mas nada demais. Quando na terceira o fenômeno se repetiu, torci o pescoço procurando o passarinho. Explico: era passar ali na porta e um passarinho fazia um piu-piu, sempre igual. Decerto um boneco daqueles com sensores, que dispara ao alguém passar à frente.

Tornou-se rotina. Comecei a aguardar com alguma ansiedade o momento de passar em frente à porta da floricultura e ouvir o assovio artificial do boneco que nunca, jamais vi, por mais que vasculhasse o interior do lugar com os olhos procurando não dar muita bandeira pros lá de dentro. Era pisar a calçada contígua, ajeitava o livro embaixo do braço, enfiava as mãos nos bolsos e apurava os ouvidos. Aquele piu-piu era um "have a nice day", pra mim, um sopro de bom humor logo no comecinho do dia. Você faz idéia do que significa um sopro de bom humor logo no comecinho do dia? O quanto isso vale?

É que faz já uma semana que o passarinho morreu. Sei lá, não toca mais piu piu nenhum quando passo lá. Maior frustração. Tentei até mesmo pisar dentro da floricultura uma vez, a ver se chegando mais perto... nada. Me vi de barba por fazer, o olhar desvairado, andando por aí sem sentido. Minha mulher reclamando, as pessoas passando a me evitar, eu arrancando os cabelos pelas esquinas, refém de um mistério insolúvel. Me vi também um dia parando ali e perguntando: ei, cadê o bichinho que apitava aqui todo dia quando eu passava?

Não, não. Nem uma coisa nem outra. Sobreviverei na minha sandice moderada, a despeito de não ter mais esse sopro matinal. E também não vou perguntar nada ao povo da floricultura, que um pouco de mistério faz bem.

Provavelmente eles se encheram o saco de ouvir aquele piu piu todo dia o dia todo sempre que qualquer um passa ali, e deram um fim nele. Não sei. Um pouco de mistério faz bem.

É por aqui que vai pra lá?

Ninguém sorri em Curitiba.

O Polzonoff

Depois do café de uma manhã das comuns entrei no meu quarto. Fechei a porta. Ninguém me ouviria. Comecei a rasgar todos os meus livros. Primeiro os contemporâneos, depois os clássicos. Não tinha ninguém ali para me impedir. Eu não chorava. Minhas mãos trabalhavam rápido. Paul Bowles, Thomas Bernhard, Fernando Pessoa, Oswald de Andrade, Maiakovski, dicionários, glossários, antologias, revistas culturais, jornais, toda a Biblioteca Nacional e Drummond. Eu não havia bebido, sem frontal, sem referência, sem vontade de morrer, sem filosofia. A literatura é mercado. A arte é mercado. E uma idiota como eu acha que a vida é isso. Aparecer escrevendo. Vou parar de escrever, vou acabar com este blog, vou virar pedinte nas ruas de Copacabana, carregando um saco dos livros que rasguei. Eu nem deveria estar escrevendo isso aqui, vocês vão achar que é mais um post. Vou vender letras para sobreviver. Livros rasgados. Me dê um real aí que eu te dou um pedaço de livro. Dessas bostas que eu leio todo dia, por prazer e para sobreviver. Dessas bostas que as editoras compram e publicam. Destas bostas de editoras. Grandes e pequenas. Todas a mesma merda. Só muda o nome. Todas nepotistas, todas tribalistas. Se você não é do comando, tá fora. Sei, não precisa me dizer, ressentida? Não, realista. Leio leio os novos, bonitos, vazios, leio leio os velhos, bonitos, os clássicos. Todos que procuro imitar, que eles imitaram e imitam também. Daí vem aquele papinho chato, escritor de blog? Não, não sou escritor de blog, o blog é um instrumento. Vá se foder. O blog é um instrumento até você achar uma editora que te banque. Até tudo que você pensa sair em forma de papel. Papel para vender. Onde uns meia dúzia pagam e você continua duro, porque não é um Paulo Coelho ou Ubaldo, nem está falando de sexo, doenças ou de cidades de deus. Daí você sai em papel e abandona o blog ou o transforma em instrumento de marketing pessoal, pra você vender o seu livrinho on-line medíocre, porque você não é uma Clarice Lispector, você não é um Paulo Francis, você não é um John Fante, você não é uma Hilda Hilst, você não é. Para mimar a sua vaidade, você quer o livrinho em papel pra descolar, quem sabe, uma notinha ou resenha em jornal, que vai dizer que você escreve de uma forma diferente e moderna o que outros cansaram de dizer. Ok, sem problema, faça o que quiser. Quem sou eu pra julgar? Pouco me importa, se você quer saber. Acabei de rasgar meu último livro agora. Rápido, não foi? Acredite se quiser. Mas, apesar de tudo, continue escrevendo se lhe der na telha, pois pode ser que um dia a gente aprenda e a vida pare de imprimir rascunhos.

Prosa Caotica

Marido chegou, deu abracinho, beijinho, comeu o PIOR macarrão que eu já fiz na vida, arrumou o varal, disse que a casa tá ótema e que a faxineira não faz falta, ajudou na tradução, deu abracinho, beijinho, contou fofocas, chamou eu de fumiga, ouviu minha longa narração sobre as virtudes artísticas do Clodovil, falou mal da Martaxa, do Lula-lelé, do síndico, deu abracinho, beijinho e foi nanar. Amém nóis tudo.

¡Drops da Fal!

Mas então hoje eu abri minha caixa que estava guardada há sei lá quantos anos, desde que eu me casei e mudei daqui (da primeira vez, claro) e não podia levar esse monte de absurdos, porque vai que o marido tem um acesso de curiosidade e lê.

Putz. Tem diários meus escritos dos 15 aos 21 anos. Não são exatamente diários, são agendas. Tem os filmes que eu vi, os discos que eu comprei, os caras que eu beijei, pra quem eu dei, ou seja: exatamente como este blog aqui hahahahhahah.

Não li tudo, pelamordedeus. Nem eu mesma me interesso por aquilo. Mas tem informações interessantes, como por exemplo, o dia em que eu perdi a virgindade. Não me lembrava mais (aliás, já esqueci de novo). Bom, quando chegar a data eu escrevo um post pra comemorar.

Não mudei quase nada, a não ser a minha letra, que era bem bonita e agora é um garrancho incompreensível que nem eu mesma entendo, e se eu fosse descrever os diários poderia usar o mesmo texto que tá ali do lado esquerdo:

seus amores (hahahaha),
seus ódios,
seu copo,
seus clichês
e etc.

só que antes eu até que tinha uma certa fé e agora não tenho nenhuma, computadores eram primitivos e eu não vivia numa ilha imaginária.

***

Nos trechos que li, encontrei o dia do chá de cogumelo, que eu já contei aqui e foi uma coisa totalmente hilária, mas não me lembrava disso:

"dormi com o Marcos na cama do David? Só pode ter sido efeito do melo"

hahahhahha fala sério. Eu chamava cogumelo de "melo". O David é aquele amigo que muito tempo depois virou gay. Não me lembro de jamais ter dormido na casa dele, muito menos com o Marcos, que já nem era meu namorado na época.

Que absurdo.

***

Agora não sei o que fazer com isso. Preciso destruir essas coisas, porque se alguém ler eu vou morrer de vergonha, mas também não posso eliminar os últimos vestígios da minha memória remota. Sei lá.

E ainda bem que eu tenho blog, pelo menos os últimos 3 anos da minha vida estão registrados, se bem que tem muita coisa sem lógica, que eu leio e não sei mais do que estava falando, e coisas que nunca contei, e coisas que deletei, e ah, também não é nada tão importante assim.

***

O chá de cogumelo

Um dia, nos distantes anos 80, estávamos sem fazer nada em Valinhos (redundância) e alguém teve a brilhante idéia:

- Vamos fazer um chá de cogumelo! Dá o maior barato!

Acho que deve ter sido o Marcos, só pode ter sido ele que disse isso. Mas não sei mais. Então fomos procurar os "fungos" em algum pasto e fomos para a casa do David, que estava "vazia" (ou seja, os pais dele não estavam lá).

Pusemos os cogus pra cozinhar, não sei bem como. Algum dos presentes dominava a "técnica", ou pensava que dominava.

Então o chá ficou pronto e tomamos. Me lembro que era horrível, mas não mais horrível do que chá de boldo e muito menos horrível do que chá de losna. Eca, pra que fui falar em losna? Puta coisa ruim. hahahhahahha

Aí ficamos esperando "bater". Nada acontecia. Ninguém estava vendo as paredes em chamas, o chão derreter ou o céu ser devorado por cíclopes roxos com bolinhas cor-de-rosa, e foi aí que o barato começou:

- Gente! Gente! Esse chá corrói os dentes, nós vamos ficar banguelas! Tem que escovar os dentes agora mesmo, senão nós estamos fodidos!

Deu um pânico geral, puta bad trip mesmo hahhhahahhaha, fomos pro banheiro e todos nós escovamos os dentes com a mesma escova.

E esse foi o único barato que aquele chá deu. Nunca mais tomei. hahahhahaha.

Sampa demais na Ilha de Siris

18.2.04

coisas que eu adoro feitas de coisas que eu odeio. e vice-versa

odeio azeitona. adoro azeite.
odeio suco de tomate (e bloody mary.) adoro tomate.
odeio uva. adoro uva-passa. (gosto de vinho.)
odeio vísceras de qualquer animal. adoro salsicha.
odeio bacon. adoro baconzitos.
odeio chuchú. adoro souflê de chuchú.
odeio gin. adoro gin-tônica.
odeio queijada. adoro queijo.
odeio pamonha. adoro milho.
odeio o vasco. adoro futebol.
odeio goiaba. adoro goibada.
odeio barriga. adoro sobremesa.
adoro o começo. odeio o fim.

caráio...

Eu também quero ser malditão. O segredo de ser escritor maldito é beber mal. É preciso vomitar bastante, fazer cena, chutar bandejas das mãos de velhinhas. Ajuda viver numa pensão fedida e ter como amantes duas prostitutas feias de cinqüenta anos chamadas Ermocília e La Guapíssima. Os críticos decidem se um escritor é maldito vendo os bairros em que os escritores moram - é um gênero em que o estudo cuidadoso dos CEPs é mais importante que o da estilística - e medindo a beleza de suas prostitutas.

O crítico é apresentado ao escritor numa festa e pergunta:
-Você mora onde?
-Na Comendador Faria Mello.
-No centro? Bom. Mais perto da Brigadeiro Tobias ou da praça Professor Otacílio?
-Mais perto da praça.
-Depois das Casas Bahia?
-Antes, antes.
O crítico pensa um pouco, tira um caderninho do bolso e diz:
-Estou escrevendo um artigo sobre os novos escritores malditos, pode me dizer o seu nome...?

O maldito Alexandre Soares Silva

17.2.04

Hoje eu paro de tomar remédio pra poder beber no carnaval.
Carnaval sem bebida não é nada, fora que já não vou poder sambar, meu namorado proibiu, disse que se eu botar o pé na avenida ele me tira de lá a tapa e ainda me bota de castigo amarrada na cama.
Eu que não sou boba obedeço, ele é bravo e cheio dessas manias. Da última vez pingou velas em mim porque disse que eu não me comportei durante o jantar, muito maldoso ele, a única coisa engraçada foi aquela fantasia de zorro que ele insistiu em vestir com a espada em punho.
Até que estou gostando disso tudo, ainda bem que ele não tem tendências infantis, é mais morderninho, porque se fosse aquelas coisas de Roda Peão, Cavalinho, Trepa-Trepa, Gangorra e Roda Gigante, eu estaria ferrada, no bom e no mal sentido.

casos e acasos virtuais

Tenho esse andar manco.
Essa cara disforme.
Uma veia saltada na perna.
Mania de furar a fila, cortar barato.
Tenho a pele do rosto furada.
A voz em falsete.
Essas olheiras profundas.
A letra bem feia.
Um olho cego. Os dentes tortos.
Não comprimento ninguém.

Quando o relógio toca, finjo que não ouço.
Não sou dada à crianças.
Se machuco o dedo chupo o sangue na hora.
Cabelo sujo, unha encravada.
Camisa virada.
Rogo pragas.
Quando cai bola no quintal, devolvo todas furadas.
Ao deitar, demoro pra pegar no sono.
Demônios me visitam, se aproveitam do meu medo do escuro.

Verrugas na testa, manchas nas costas.
Aftas enormes, pavor de cobras.
Quando choro baixinho, é cisco no olho.
Tenho meu orgulho.
Detesto segunda feira.
Não pago o dízimo, fugi da escola.

Reclamo, brigo, nego, destruo.
Não mexam comigo.
Só não consigo resistir quando toca essa música...

Dança ela comigo?

Old Style

Clara Nasceu
Pessoal, segunda-feira as 12:33 (meio-diaaaa) a Clara nasceu, de parto natural, e estamos ótimas... ela mamou logo de cara, e eu sai andando da sala de parto, com a minhas perninhas :)
Ela pesava 3190gr e tem 49cm de comprimento, saimos ontem do hospital e ela já havia ganhado o peso que tinha perdido (a perda fisiológica) e eu estou ótima.
Meu parto foi bom, mas não foi rápido. Entretanto eu recomendo pensar duas vezes em desistir do parto normal (ou natural como quiserem chamar) só porque sentimos dores. Eu pude amamentar logo, ela ganhou peso e eu devo isso ao ótimo hospital.
Me perdoem a falta de foto hoje, amanhã acho que consigo postar algo. E a falta de notícias também, desculpem :)
beijos da Criss e da Clara.

amamentado no pulce.org - blog da Criss e da Clara :)

16.2.04

Amar Emburrece

ADVERTÊNCIA: Quaisquer semelhanças entre as situações e personagens descritos a seguir com fatos reais NÃO são mera coincidência. Esta história foi originalmente produzida em preto & branco.

Como todos sabem, homens não são muito providos de inteligência natural. Apaixonados, então, tornam-se mais abobados ainda. Quando Alechandre viu Sessília pela primeira vez, seus olhos foram imediatamente fisgados. Nada como um belo par de pernas, cabelo chanel, mamilos querendo rasgar uma blusa justa e um sorriso sugestivo para ruir toda a racionalidade de um homem. Quando Alechandre encontrou Sessília pela primeira vez na pista de dança daquele barzinho, ele poderia jurar que todas as bocas se calaram, todas as estrelas se apagaram, o mundo todo caminhou na ponta dos pés e todas as rádios interromperam suas programações só para tocar The Killing Moon.

Mas enfim, amar é decretar uma chacina de neurônios.

Na condição de melhor amigo da vítima, fui testemunha privilegiada do processo de derrocada de Alechandre. Lembro-me muito bem de seu discurso derramadamente sentimental funcionando a todo vapor, comentando TODAS as suas afinidades com Sessília. Disse que ela lia Borges, Poe e Leminski; que seu jogo preferido do Atari era H.E.R.O.; que tinha a coleção completa de Sandman; que gostava de comer pão com manteiga e geléia de uva; que quando criança sonhara em ser chacrete, arquiteta e pintora antes de se tornar advogada; que gostava de yakult, Edward Munch e física quântica; que desistira de ler Ulisses porque cansava demais ficar carregando aquele calhamaço todo no ônibus; que seus ídolos eram Gaudi, Carl Barks e Clarice Lispector; que o que mais lhe doía na vida era a sensação de desamparo e vazio no peito toda vez que um amor acabava, e principalmente a sensação de pensar, "mas acabou de novo?"; que cantarolava Arnaldo Baptista enquanto tomava banho ("hoje percebi que venho me apegando às coisas materiais"); e que ao ouvi-la cantando justamente AQUELA música seu coração se encheu de ternura e seus olhos ficaram úmidos. E aí constatei, porra, o cara tinha caído direitinho na arapuca.

E depois de tudo isso, pra culminar, ele me diz: "putz Auberto, como é que NUNCA nos encontramos antes?". E aí fiquei pensando, quantas vezes já ouvi na vida variações em cima desta mesma frase? "I look at you and what I see is me", cantava o Pink Floyd, se é que minha memória pop não está enganada. Todos que se apaixonaram pelo menos uma vez na vida já passaram por essa fase de deslumbramento e assombro. Pena que quase sempre ela passa.

E mal sabia meu amigo que, a partir do momento em que seus olhos se umedeceram de ternura, começava ali sua derrocada na cadeia evolutiva, e que aquele rapaz promissor, um jovem jornalista recém-formado, em apenas duas semanas se veria transformado em um Neanderthal apaixonadão e completamente aparvalhado, capaz de brincar de mal-me-quer com um Haagen Dazs de cheesecake enfiado no meio da testa, com o sorriso mais alegre e estúpido do mundo estampado em um rosto subitamente repleto de espinhas.

Amar não é para amadores.

Quando a gente se esquece do tempo, é aí que ele passa mais depressa. Em questão de semanas Alechandre e Sessília percorreram todos os passos da via crucis da paixão. E de repente, tudo o que encantava tornou-se motivo de escárnio e ironias corrosivas. Citações de filmes tornaram-se "manifestações pretensamente intelectuais de erudição frustrada". Se antes os olhos brilhavam de paixão, agora faiscavam de rancor, sarcasmo, raiva. "Mas acabou de novo?".

Alechandre passou exatas duas semanas curtindo sua ressaca pós-amorosa em grande estilo. Estatelado em sua cama, olhando o teto branco de seu quarto na penumbra e ouvindo álbuns de Zezé di Camargo & Luciano, e o que é pior, identificando-se terrivelmente com TODAS as letras dos caras, e cantando em altos brados: "O tempo todo, o dia inteiro/ Sinto o seu corpo, sinto o seu cheiro/ E a minha vida é só pensar em você...". Fatos que corroboraram, definitivamente, a minha tese: amar emburrece.

Hoje, três meses depois, Alechandre não pára de falar na Jizele, que tem 25 anos, 271 CDs e "o sorriso mais cool do mundo", segundo suas próprias palavras. Por mais que ele quebre a cara, não aprende as lições. Discutindo sobre a imbecilidade da paixão, Alechandre disse que preferia ser o rei dos débeis mentais a insistir na "medíocre e conformada estupidez de um cético blasé neo-liberal", obviamente referindo-se a mim, tsc, tsc. Ah, a verborragia dos apaixonados.

Observando essas cenas, pergunto-me: será que um dia chegarei a tal estado de torpência mental? Espero eu que não. É preciso estar sempre alerta para os riscos da paixão: olho para os dois lados antes de atravessar a rua, atento a movimentos de estranhas, essas coisas. Mas já deixei minha família de sobreaviso. Se um dia eu for pego pela armadilha do amor, quero que os aparelhos sejam desligados. Não desejo sofrimentos desnecessários.

Pensar Enlouquece. Pense Nisto.

goodbye ruby tuesday

Eu adoraria consegui dizer uma coisa definitiva. Aliás, gostaria de sentir uma coisa definitiva, isto é, tomar uma decisão interna e mantê-la aconteça o que acontecer. Mas não adianta, sempre acabo me rendendo.

Eu queria tanto uma semana ao menos de estabilidade, de certeza. Algo para eu me lembrar depois que as interrogações voltassem. Mas não, os momentos certos não duram mais do que minutos.

god only knows...

Acontece...

Ontem eu notei algo estranho. Você não faz a menor falta. Do amigo que você era so sobrou lembrança, alguns apelidos, presentes, cartas, comentarios no blog. Acabou assim, você lá precisando de alguém pra conversar, eu aqui sentindo falta do meu melhor amigo, mas e daí? Já perdi antes e to perdendo de novo, grande coisa...Grande sim, mas se esvaiu, foi embora como tantas outras coisas menores e maiores na vida da gente. Eu não vou conseguir te dizer isso cara a cara porque doi em mim e em você, mas se você liga ou não liga não faz a menor diferença, e eu sei que ninguem mais nessa vida vai saber tanto de mim, mas acabei entendendo que as pessoas tem missões e a sua acabou. A minha tambem. Pode até ser que a gente se veja algum dia, tenho um mundo de livros pra te devolver, mas eu sei que nossos olhos não se cruzam novamente, ainda que eu esteja olhando pra você. Vou te amar pra sempre mas não quero mais te ver.

Garota Perdida

14.2.04

Os limites da amizade

Ontem encontrei uma amiga minha, uma das minhas melhores amigas, aliás, que me contou que conhece um dos 03 caras que fizeram aqueles dois rapazes se jogarem do trem, aqui em Mogi. O que até hoje não se apresentou à polícia estudava em sua sala.

Pouco tempo depois do ocorrido, alguns amigos do sujeito ligaram para o namorado dela, que também era bem próximo do dito cujo, para que fosse visitá-lo em seu "esconderijo", pois estava abalado, precisando de uma força e tal. A reação do namorado da minha amiga foi algo como "Mas ele não é meu amigo mais... porra, o cara é um assassino, e vocês querem que eu vá lá dar força pra ele? Ele que pague pelo que fez sozinho!".

Aí eu fiquei pensando em como eu reagiria no lugar dele. E se aquela moça com quem conversava, que estava ali do meu lado, e que tanto amo, cometesse um crime hediondo? Se matasse, ou fizesse muito mal a alguém? Seria certo virar as costas para ela?

O que constitui uma relação de amizade? É possível haver companheirismo para todas as horas, todas mesmo? Até mesmo aquelas em que o seu amigo faz coisas absolutamente condenáveis do seu ponto de vista ético? Para mim, sentimentos de amizade têm muito de admiração também. Admiração pelo caráter do outro, seu jeito de ser, de ver a vida, de se relacionar com o mundo. Questionei-me se a amizade pode continuar existindo mesmo depois dessa "admiração" ser fortemente abalada. Se é possível apoiar seu amigo sem sentir-se seu cúmplice em algo que você condena.

Nenhuma resposta para aliviar.

Não sei dançar.

13.2.04

Eu gosto de ser bem atendido

Adentrei a loja de heavy metal com o objetivo de comprar uma camisa do Massacration, a única banda que respeito pelo excelente trabalho e por representar o verdadeiro espírito do metal. Sim, estou sendo irônico.
"Bom dia", disse ao atendente coroa e mau-humorado, que lia uma revista sobre metal e devorava um pacote de amendoins, atrás do balcão cheio de adesivos, pingentes, cd´s, braceletes e toda aquela parafernália típica de lojas de metal. Após ouvir um grunhido que deveria ser a resposta, perguntei se eles vendiam a camisa ou se saberia me informar como posso conseguir uma.
Ele, tão educado quanto um carro de som anunciando baile funk em procissão funerária, sem desviar o olhar da revista que lia, apontou para uma arara de camisas e disse:
- Nem sei, ô. Vê ali.
Abri meu melhor sorriso de "tomara que você morra com uma prisão de ventre crônica" e fui até a arara. Olhei aquele monte de camisas de bandas, caveiras, monstros e aberrações, sem sucesso. Nada da camisa do Massacration.
"Uma pena", pensei, num muxoxo. Desta feita, encaminhei-me para a saída, quando fui abordado pelo mesmo vendedor, que entre um grunhido e um "Ôôô, psiu!", perguntou:
- Tem a camisa?
E eu, que não nasci pra santo, apontei pra arara e lasquei:
- Vê ali.

neurociência das chiks peitudas

12.2.04

Se Tolkien fosse brasileiro

Se Tolkien fosse brasileiro seria publicado pela José Olympio e estudado por Antonio Candido, que o compararia a Murilo Rubião e José J. Veiga. Iria aos sabadoyles, sairia pra rua de chinelo comprar pão, se filiaria à CUT, escreveria um livro sobre o Palmeiras. Frodo se chamaria Anhangaquara, Saruman se chamaria Cupuaçã. A Terra Média seria uma alegoria mal-disfarçada do Brasil sob a ditadura e Dias Gomes faria uma novela sobre isso, O Coronel dos Anéis, com música dos Secos e Molhados e Mário Gomes no papel do guerreiro Zé Aragão. Não é o tempo que estraga tudo, é o Brasil.

Alexandre Soares Silva

Para quem gosta de estudar Inglês de maneira rápida e eficiente:

Curso rápido de inglês (Ou: a foquim inglich cors)

Quando você faz um curso de inglês convencional você aprende a falar inglês almofadinha que só serve para se comunicar com os PhD da vida, e olha lá. Aí você chega a um país anglofono e percebe que aquilo que você fala não é entendido pelo povo no seu dia a dia. Você fala e todo mundo fica olhando com aquela cara como se estivessem esperando o desenlace de uma piada. É muito constrangedor, depois de 550 pontos no TOEFL...

O negócio é aprender a falar nas ruas de New York. Se você não pode pagar uma viagem a New York, então recomendamos seguir estas curtas indicações fonéticas. Garantimos absoluto sucesso na sua comunicação com os nativos. Eles entenderão direitinho o que você quer dizer.

a.. Se você quer uma Coca-Cola, diga:
- GUIMI A COUC.

b.. Se você quer comer uns ovos com presunto, diga:
- RAM AN EGGS.

c.. Se você prende o dedo na porta do táxi, grite:
- FOC!

d.. Se algo lhe parece muito caro, diga:
- FOC!

e.. Se levar um escorregão no metrô, diga:
- FOC!

f.. Se você for assaltado no Bronx, diga:
- FOC!

g.. Se você dá de cara com um mulherão tipo Kim Bassinger, diga:
- UARA FOC!

h.. Se alguém lhe grita algo que contenha FOC, responda:
- FOQUIU TU.

i.. Se você perde seu passaporte, chame a policia e diga:
- AI LOST MAI FOQUIN PEIPERS.

j.. Se você se perder na cidade, grite:
- AI AM FOQUIN LOST.

k.. Quando se referir a uma terceira pessoa, outro sujeito, diga:
- DE FOQUIN GAI OVERDER.

l.. Se está a fim de transar com aquela morena espetacular, diga-lhe:
- AI UANA FOC WIT YU.

m.. Se está a fim de transar com aquela loira espetacular, diga-lhe:
- RELOU, CAN AI FOQUIU?

n.. Se não souber onde pegar um táxi, pergunte:
- RAO TU GUET A FOQUIN CAB?

o.. Se estiver muito chateado não diga REFOC, somente repita FOC várias vezes.

p.. Se perceber que alguém está querendo fazer gozação com você, pergunte:
- ARYU FOQUIN MI?

Se estas instruções não lhe servirem ... UAT DA FOC YU UANT?

'pearly'

Tá, então eu vou contar logo do episódio da banana porque as pessoas já tão imaginativas demais. Sinto desapontar a todos nesse momento, vocês que nutriam toda uma expectativa achando que eu praticava cousas pouco ortodoxas envolvendo bananas e os muitos buracos que a pessoa possui.

Nã, calma.

Então deixa eu explicar o cenário humano daquele tempo.

A minha mãe.

(sempre ela, né? praticamente uma obsessão)

A minha mãe, ela sempre foi muito preocupada com a educação sexual das crianças (as dela, pelo menos). Não queria repetir o mesmo erro dos meus avós. Queria que fosse tudo logo esclarecido, o assunto tratado com naturalidade, assim, de onde vêm os bebês logo na primeira infância e bora lá. Mas aí vocês precisam perceber que era a minha mãe. Que ela erra a mão às vezes, porque bichinha, ela tem pouca noção demais. A pessoa mais cheia de boas intenções que há, mas nem sempre funciona adequadamente. Então foi a enciclopédia da educação sexual, mainha não acha que você precisa casar virgem, minha filha, só tem que ser com um moço bom de quem você goste, mas num escolha muito não que se demorar, a pessoa vai encruando. E sempre a vida toda eternamente até encher o saco, a história da camisinha. Camisinha, atenção todos, camisinha, nunca esqueçam, quando o negócio esquentar, lembrem de mainha e use camisinha.

Que, se tivéssemos realmente levado ao pé da letra, seríamos todos donzelos para a vida toda. Ou pior, gentes com graves questãs problemáticas na esfera psico-sexual.

Aí ela comprava milhares de camisinhas no supermercado. Milhões. Ninguém fazia sexo em tempo algum nunca e nem queria, éramos todos queijudinhos de marré marré marré e o pote das camisinhas tava ali, cheio. E eu tô colocando as coisas no masculino plural, antes que vocês estranhem, porque tenho dois irmãos. E essa é a regra da gramática. Tá. Os meninos, meudeus, eram tão zé-queijinho e inocentes de toda uma vida, que usavam as camisinhas pra encher d'água e ficar jogando no corredor da sala, um pro outro. Não havia realmente o menor perigo das pessoas praticarem o intercurso, e eu disse isso a ela, "mãe, pára de comprar essas camisas, porque tá ligada que num rola nada, né?", mas ela achava que devia, e quando ela acha que deve, melhor é deixar pra lá, num discuto.

Pronto.

Então ia passando o tempo. Ia passando e passando até que a hora do vamo-vê ia se aproximando, eu achava no meu juízo pelo menos, e aquelas camisas ali, e eu, e você ouve as pessoas falando, né? Não, porque camisinha faz o sujeito brochar, porque camisinha é uó, porque camisinha é ruim de colocar, porque a pessoa morga ali no meio do processo, porque. Mas tem que usar, de qualquer jeito em qualquer tempo tem que usar, meudeus, se eu num usar minha mãe me mata, valha-me, quero nem pensar. Eu acho que eu nem tinha o clássico medo de doer, de dar xabu, não, porque na verdade eu tinha o grande medo maior de todos, que era o de ser impenetrável (tapada, ou isso), mas depois desse maior medo de todos, vinha a história da camisinha. Meudeus, todo um processo se desenrolando, veja bem, já uma dificuldade, daqui que eu arranje um sujeito que me deflore vai ser um milênio, ainda mais um que seja bonzinho e legal, e depois de toda essa jornada em busca do pote de ouro, a pessoa correr o risco do cidadão se desanimar por causa da camisa? Num pode. Num pode de jeito manêra, Cristiane. Aprenda todas as técnicas possíveis que existem no mundo pra pessoa vestir a camisinha sem desandar a receita, e logo, e rápido, porque ninguém sabe quando é que o troço vai acontecer.

Tá.

Aí entra a banana, o "objeto" na casa da pessoa que mais se assemelharia a um pinto. E dizia que quanto maior mais difícil, escolhi uma banana super-extra-GG. Umas camisinhas, certo, lá do pote, e praticaremos. Não deve ser difícil.

A pessoa então se põe em seus aposentos e passa ali algum tempo. Porta fechada mas aquela coisa, sem chave. Tava ali na labuta de descobrir minhas habilidades quando o -mor chega do nada e dá uma batida na porta e entra sem esperar muito (é assim: quando as pessoas batem é só pra cumprir protocolo, que ninguém espera você dizer "pode entrar" nem nada da espécie - isso até hoje). Pois bateu uma vez e eu contraí os meus músculos todos que há e joguei tudo pra baixo da cama. Camisas e banana e coisas, fui o gatilho mais rápido do oeste. E o mongo entra então e diz algo como "purra! vem ver um negócio aqui na televisão! rápido!", e eu já dou um pulo da cama com um entusiasmo pra ver uma coisa na tevê como nunca houve antes. Ou depois.

Não lembro o que era, mas me entreteve de maneira tal que esqueci o "material" ali embaixo da cama pra sempre.

Pra sempre até sexta-feira, que era o dia de faxina aqui em casa, e a pessoa chega então da escola ali pelo meio-dia e vai entrando contente, imagine, tarde de sexta-feira, só a alegria no coração, lalalá, dobro no corredor e tá tudo lá: banana extra-mega-GG VESTIDA com uma camisa, camisas "usadas", camisas intactas (hoje penso que eu era muito estragada, ou a memória faz isso de multiplicar as coisas, mas o que ficou na figura do juízo foi aquele monte de camisa junto com o lixo varrido do quarto e a banana, claro).

Isso Tidinha (a faxineira) varrendo e limpando e assobiando assim, como se não tivesse acontecendo nada.

Minha primeira reação então, instalado o pânico, foi gritar.

- AAAAAHHHH!

Desse jeito que as pessoas gritam.

O que é que eu faço mamãe o que é que faço agora? Estou destroçada. Vão tirar meu couro até o fim dos tempos. Como vou explicar isso etc. Aí veio o arco-reflexo da atuação que mereceu muito o Oscar, tu vai ver que um dia eu ainda ganho o douradinho por my lifetime achievement e esse dia terá importância crucial na história,

- O QUE É ISSO? AAAAHHH! DE ONDE VEIO ISSO, MEUDEUS?

E Tidinha olhando pra mim com aquela cara de "tá, conta outra então que tu num sabe de onde veio, danada!" e disse "humm, tava debaixo da tua cama, Cris...", e eu continuava, louca, desvairada, surtada, descompensada,

- CADÊ MAINHA? MAINHA!? MAIIIINHA TU JÁ VIU ISSO, MAINHA?! MEUDEUS É UM ABSURDO! O QUE ISSO TAVA FAZENDO DEBAIXO DA MINHA CAMA, MEUDEUS???

E mainha, que não tinha visto nada ainda (muito bem, Flipper!), veio pro corredor e caiu numa risada a maior de todos os tempos.

- TÁ RINDO DE QUÊ? AGORA ME DIIIIGA DO QUE É QUE VOCÊ TÁ RINDO! Mainha, isso NUM TEM GRAÇA! As pessoas ficam fazendo coisas NO MEU PRÓPRIO QUARTO! E nem pra jogar fora! MEUDEUS, É O FIM DO MUNDO, MAINHA!

Pra ela parar de rir foram uns cinco anos. E ficou estabelecido então que num tinha sido eu. Foi algum dos meus irmãos que, muito desconcertado, não quis assumir a culpa. Mas todo mundo sabe que se num foi um, foi outro. Claro que a parte da banana impedia que um dos dois assumisse a culpa, que isso envolvia toda uma mudança de intenção sexual talvez, então chegou uma hora que eu disse "mãe, melhor deixar isso de lado, né? esquece... vai traumatizar os pobrezinhos", tenho certeza que minha cabine particular de altíssimas temperaturas pra queimar eternamente no fogo do inferno tá reservada desde já.

mon coeur vomit

"E o enriquecimento dos homens ocorre de seis maneiras: pela mendicância, pelo serviço ao soberano, pela agricultura, pela aquisição de conhecimentos, pela usura ou pelo comércio."
(de uma fábula indiana)

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Por falar em indianos, eles são um dos povos mais interessantes. Eu e meu pai fizemos umas aulas de sânscrito. Não sei nem escrever meu nome. Não que a aula não tenha servido para nada: comecei a achar o grego fácil. Meu pai, que aprendeu umas coisas, diz que resolveram colocar as regras de gramática de todas as línguas no sânscrito: singular, plural e dual nos nomes e verbos, uns 10 casos para os nomes, ao contrário dos 5 em grego e 6 em latim, um alfabeto de 50 letras e as intermináveis regras de sandhi - algo como ser obrigado escrever "d'oiro" no lugar do tradicional "de ouro" de vários jeitos possíveis, em vários casos diferentes, para que a pronúncia fique mais adequada.
Não é só a língua. Nosso professor, que já morou um tempo na Índia, disse que um amigo seu foi espancado por uma gangue de macacos. Sério.
E, se um asceta indiano resolvesse ler Santa Teresinha não ia entender nada... "pequeno caminho", pequenos sacrifícios? Isso é sânscrito para eles. Vi a foto de um sujeito que está com a mão direita levantada faz uns 10 anos. Perguntei para meu professor se isso não cansava um pouco e ele disse que não: "depois de um ano o braço calcifica, não dá mais para abaixar". Ah bom...


Noites áticas

Primeiro Contato

Não sei dizer qual foi meu primeiro contato com a vida. Pode parecer forçado, mas não sei qual foi o dia que acordei e me dei conta de que estava vivo. Foi antes das palavras surgirem em minha mente? Provavelmente, pensei algo ridículo.

Eu me lembro do meu primeiro contato com a morte. Pode parecer forçado, mas foi quando perdi o medo. Antes eu só me lembrava de ter medo. Muito medo. De perder noites incontáveis em pesadelos onde mortos se levantavam. De perder dias com medo de atravessar a rua.

Um dia perdi o medo e ela chegou. Tinha o toque gélido de bebida on the rocks e a fragrância rascante de uma carreira bem preparada. Ela sabia meu nome. E me disse o seu.

Eu me lembro do frescor fugidio de sua voz, mas não me lembro do seu nome. Eu ainda te procuro, bela dama, que sumiu na carreira de pó que se desfaz na consciência. E sei que, inevitável, voltarás. Eu tenho os sinais.

Revertere ad locum tuum.

boa noite

gêmeas

- você vem sempre aqui?
- só quando quero fazer xixi. muita cerveja.
- ahn.
- e você, vem sempre aqui?
- só quando quero reconquisar minha namorada, sempre que briga comigo ela se refugia no banheiro. aliás, a salada de atum dela está uma delícia.
- ahn, é verdade... e pela sua cara frustrada não deu muito certo, né?
- pior que deu. ela saiu pouco antes de você entrar, parecia contente.
- e então, o que você ainda está fazendo aqui?
- estava esperando por você. sabia que você viria atrás de mim.
- eu não vim atrás de você. vim só fazer xixi.
- tem certeza?
- eu não, mas minha bexiga tem. se você me permite (ela aponta para a porta do banheiro).
- não (ele senta-se no chão, de frente para o vaso).

sem titubear, ela levanta o vestido e aboleta-se no vaso sob o olhar atento dele. o som da urina batendo na louça toma conta do ambiente.

- eu não vou fazer isso com minha irmã, esquece.
- ela já me contou que vocês enganaram diversos namorados. e não deve ser difícil, vocês são idênticas.
- nem tanto assim.
- claro que são. até as roupas. tua mãe mesmo confunde.
- você não?
- não.
- tem certeza?
- claro.

ela silência, o xixi termina. veste-se e sai do banheiro, não sem antes dar um beijo no cantinho da boca dele. ele titubeia, demonstrou convicção na afirmativa, mas realmente não sabia quem estava à sua frente. idênticas, cópias perfeias, dos hábitos aos gênios. continuou sentado, esperando voltasse para esclarecer a dúvida. tinha certeza que ela voltaria. mas quem surgiu foi a avó delas, reotrcida com a cólica que adonou-se da coitada após provar a salada de atum de uma das netas, que ela não sabia o nome, pois também confundia. pobre senhora, detestava frutos do mar e comeu achando que fosse frango. entrou porta a dentro insultando seu organismo irregular. ele mal teve tempo de esconder-se dentro da banheira antes do odor desagradável adentrar por suas narinas e o asco tornar-se vômito.

estranhas palavras

Você não sabe o que é acompanhar uma vizinha histérica ao pronto-socorro, em crise nervosa, e ela rejeitar um tranqüilizante só porque não confia no hospital [9 de Julho]. Em plena madruga. E ela exigir transferência para o Hospital Albert Einstein, que lá ela aceita o tal comprimido. Você não sabe o que é isso. A partir de hoje eu sei. Você nem queira saber.

¢AtaRrO vE®De

Emulator

3

15 de março. anoto na agenda entre minhas merdinhas um retorno à terapia. o médico, le petit guignol, vai ter de me explicar por que esta pontada intra-encefálica todos os dias pela manhã. ele não vai me cozinhar mais. doze trocas de medicação em menos de oito meses de terapia, não é pra desconfiar não? não sou do tipo de paciente que se fulano diz, é porque é. vou enfim pensando essas coisas antes que o verão acabe esta noite. mal consigo enxergar aqui, o globo espelhado gira e seus reflexos iluminam minha mesa vazia em intervalos regulares, na batida. meus amigos estão todos na pista e posso desfrutar uma solidão dupla, com gelo e limão. qual o teu telefone? está na lista, respondo. a piada é datada mas ainda funciona. o bofe, meio bolado, se manda. olha só a bunda do cara, penso alto, quando ele dá as costas. me aparece cada uma. hoje estou sem paciência para éticas, bons modos e consensos. não devia ter saído de casa. as folhas da agenda estão despencando e ainda estamos em fevereiro. meu drinque parece um caldeirão celta. "não sei o que digo, não sei o que sei, não digo mais o que quero". olho para a pista e vejo meus amigos suando, frenéticos. fecho os olhos e imagino danças camponesas, coros de caçadores, cantos folclóricos. gosto destes efeitos sem causa, o que pra mim é a definição perfeita de toda a arte contemporânea: feita para não durar. amanhã a gente esquece tudo. livros, telas, filmes, músicas, peças, fotos. tudo que vejo parece oco, silêncio sem enigmas, tragédia sem mito. mas kulo tresno é eu te amo em javanês, sabia?

Prosa Caotica

O videotexto (Post XXVII)

- Desculpa por passar aqui a essa hora, mas eu não podia deixar isso pra depois.

Ele ouviu o pedido em pé, de pijama, à uma da manhã, enquanto eu desligava o carro e conferia pelo retrovisor os estragos que a mãe do locutor havia feito no meu cabelo.

- Oi pra você também...
- Desculpa, de verdade. Eu sei que estou um pouco nervosa, mas...

Suspirei, cansada daquela vida. Eu teria me divertido com a idéia de terminar com aquele noivado, se não julgasse o clone um belo exemplar da espécie dos "bons moços". Adoraria fazer a cena da moça que diz "não" e vai embora no meio da cerimônia - sempre foi um dos meus maiores sonhos de consumo. Mas pensar em fazer isto com aquele rapaz que havia cuidado de mim depois do estrago que o ex havia causado, parecia doentio. Terminar naquelas condições também não era boa idéia, mas eu não suporava mais enganá-lo.

- Você não quer entrar e conversar com calma?
- Não.
- Quer conversar aqui na rua?
- Não, não quero.
- E o que você quer?
- Eu não quero casar.

Ótimo! Na bucha e da pior forma, sua anta!

Olhamos um para o outro em silêncio. Não era para ter saído daquele jeito. A idéia inicial era usar o velho papo de que não era por ele, que na verdade eu estava confusa, que tudo havia acontecido muito rápido, que eu não tinha nada a ver com o vestido de noiva da mãe dele, que eu achava que ainda gostava do ex... Ok, ok, as duas últimas desculpas eram reais, mas eu, naquela época, não era dada à verdade. Precisava de uma boa mentira. Uma desculpa que deixasse toda a culpa para mim, seria o ideal.

- ...Espera. Não é bem assim.

Ele entrou no carro...

- O que está acontecendo?

Decidi explicar direito e largar mão de ser covarde.

- A quanto tempo a gente se conhece?
- Tempo suficiente para namorar, noivar e casar daqui a exatamente dois meses.

Um agiota não faria cobranças melhor do que ele...

- Então estamos combinados. Casamos. Casamos daqui a dois meses. Eu juro que paro de frescura, conto aos meus pais de uma vez por todas o que decidimos, paro de crises e a gente casa. Eu adoro você, sei quem você é e o que posso esperar dessa relação. E acho que você pode dizer o mesmo sobre mim, não é mesmo?
- Agora sim concordamos.
- Pode ou não pode?
- O quê?
- Você pode dizer o mesmo sobre mim? Tem certeza?
- Tenho. Claro, que tenho. Eu amo você.
- E isso basta?
- Basta. Por quê? Pra você não é o suficiente?
- Se você soubesse quem eu sou de verdade, bastaria.
- E eu não sei?
- Não. Você não sabe. E é por isso que há dias eu ando tão nervosa com essa história de casamento. Eu não quero casar com alguém que não saiba quem eu sou.

Poucas foram as vezes que me dei ao trabalho de dizer a verdade a um homem. Aquela era uma tentativa realmente honesta...

- Você está me traindo?
- O quê? Do que você está falando?
- Tem outro cara? É isso? Está me traindo?

Por que em uma hora como esta, tudo cheira a traição?

- Se eu me sentisse comprometida com você eu estaria.
- Ah, é?
- É. E isso não significa que eu estou saindo com outra pessoa.
- E significa o quê, então?
- Significa que você não suporta saber sobre o meu passado, ignora o meu presente e acha que terá um futuro encantado comigo. Você não sabe quem eu sou. Não sabe quem são meus amigos, não conhece os lugares que eu freqüento, dorme nos filmes que eu gosto, não sabe que eu ronco, nunca me viu acordar no dia seguinte porque não sabe que eu não durmo. Odeia que eu fale palavrão e não gosta do jeito que eu sou. Não sabe que sempre que você me deixa em casa achando que eu vou dormir eu saio para alguma festa que eu prefiro ir sem você. Você não sabe que eu tomo anfetamina desde os quatorze anos para ficar o menos gorda possível. Não sabe que eu, naquele dia do acidente, estava tentando voltar com o Lucas e que você, fisicamente, apesar de odiar essa história, é mesmo muito parecido com ele. E não sabe que, há duas horas, eu estava sendo arrastada pelos cabelos pela mãe de um garoto de treze anos que eu achei que estava apaixonada só para poder arranjar uma boa desculpa pra me separar de você.

Pronto. Tudo em uma porrada só.

- Treze anos?

Era incrível como ele ouvia só o que lhe interessava. Uma audição quase feminina...

- Não. Eu não sabia que ele tinha treze anos. Ele mentiu pra mim. Eu não o conhecia pessoalmente - só pelo videotexto e pelo telefone, mas nunca aconteceu nada. Olha, não vá pensar bobagem, porque de forma alguma eu...
- Chega. Eu não quero mais ouvir.
- Eu imaginei que não quisesse. Aliás, você nunca quer ouvir.
- Você estava me traindo com um garoto de treze anos... Eu não acredito.

Sempre fiquei impressionada com a capacidade que os homens passionais tem de, em um piscar de olhos, se transformarem em amebas ambulantes.
- Não é possível que eu esteja ouvindo isso. Não. Pára! Pára um minuto. Você ouviu alguma coisa do que eu disse?
- Eu vou matar esse moleque!

Imagine um pesadelo. Um bem grande! Daqueles que não acabam nunca e que são cheios de cenas surreais. Era o que eu estava vivendo. Só queria que o sujeito não casasse enganado, e ele se enganando. Eu ainda tentei explicar melhor a confusão, mas, cinco minutos depois, vendo que ele não parava de tagarelar bobagens, percebi que eu também não sabia quem era aquele cara que estava ao meu lado. Se casássemos, casaríamos vendados - tanto eu quanto ele. Talvez como a maior parte daqueles que se casam e esperam esperançosos que as vendas nos olhos nunca caiam. Mas, definitivamente, aquele era o tipo de susto que eu não queria reservar para o meu futuro.

Certo, chega de consideração por hoje.

- Quer saber? Chega! Não quero e não vou casar! Estou cansada de gente louca. Estou tentando pela primeira vez na vida terminar uma história de um jeito decente e você não entende uma palavra sequer do que eu digo.Toma. Está aqui a aliança que você me deu. Agora, por favor, sai do meu carro e me deixa ir embora.

Ele pegou a aliança, bateu a porta, enfiou-se pelo vidro aberto e...

- É falsa.

Disse isso com ares de cinismo, deixou que ela caísse dentro do carro e foi embora. Eu não sabia se ria ou se chorava. Quem era pior ali? Loucos, bando de homens loucos! Celibatária. Dali pra frente eu viraria celibatária. Como é que alguém pede a mão de uma garota em casamento dizendo que aquela era a aliança de noivado que foi dos bisavós, avós, pais e blá-blá-blá, pra depois dizer que é falsa? E onde estava a merda do amor e da confiança que ele havia me jurado? Aquilo parecia piada de judeu. E de mau gosto! Era como se ele estivesse desconfiando de mim, dos meus interesses...
Indignada, parei o carro em um posto para abastecer e achar o raio da aliança.

Quem esse cretino pensa que eu sou? Quero que ele engula essa porcaria de anel! Ele e a mãe dele. Não, só ele. A mãe dele pode engolir aquele vestido de bozo que ela casou.

Abaixei a cabeça, revirei os tapetinhos de borracha no assoalho do carro e lá estava a aliança. Ela e...

- O que é isso?

.... estrela ninja.


--------------------->> Continuará em Amarula com Sucrilhos

Difícil dizer que vasculho as minhas gavetas e só te encontro lá no fundo, embrulhado em papel de seda, vestido antigo. Tu que percorrias todos os espaços da minha casa. Tu que ocupavas cada pedaço do meu território. Depois de tanta luta, depois de tanto almejar a medíocre tranqüilidade do vazio, finalmente enxergo minha liberdade como uma perda, um aborto, um expurgo de parte do que me sabia e temo. Temo pelos dias amorfos sem começo ou fim, pela inutilidade das horas rumo a qualquer lugar alheio a ti, pelo oco de mundo que deixaste em mim.

Não Discuto

Cap. MDCMMC

Naquele momento éramos somente eu e o terrível pônei de briga. O pônei resfolegou, raspando o casco contra o azulejo, e investiu furiosamente contra mim, tomando-me por um clitóris. Por instantes, pensei em esmurrar-lhe a cara, mas decidi que seria melhor contra-atacar às dentadas. Quando o maldito pônei, em sua desabalada carreira, passou por mim à toda, fracassando em sua patética tentativa de me chifrar, fui eu que me pus a persegui-lo, correndo o mais que podia. O pônei surpreendeu-se com minha atitude. Aproveitei-me da sua perplexidade momentânea e me atirei sobre seu lombo, segurando firme na crina e apertando as pernas contra seu corpo estreito de pônei. Então passei a mordê-lo ferozmente, que cada mordida que eu dava, um naco de carne saía.

O pônei gritou.
Aquele terrível pônei de briga gritou.

Percebendo que estava em vantagem, passei também a socar a nuca do pônei com toda a força. Se eu tivesse um canivete, uma faquinha de passar manteiga ou mesmo uma pedra, aquilo seria a morte do pônei. Mas, pelas circunstâncias em que me encontrava, ou seja, absolutamente nu, a não ser pela maravilhosa tiara que adornava minha cabeça, recebida diretamente das mãos da Catraca Imóvel do Mundo, por essas circunstâncias eu não tinha nada melhor a fazer que socar a nuca do pônei e continuar a arrancar-lhe postas de carne com meus dentes.
(...)
O pônei tomou o assento do motorista, enquanto eu pulei para o banco do carona, trazendo comigo o Orgone Device.
- Toca pra Brasília – disse eu, em tom de deboche.
- Só se for agora – respondeu o pônei, e meteu o pé no acelerador.
(...)

Radamanto

a civilização das bactérias

e trago dentro de meu estômago muito mais de cinco bilhões de bactérias, segundo as contas de stephen j. gould. e fico feliz por ser seu habitat. durmo sonhando com a possibilidade de ter uma civilização inteira, muito mais inteligente que a nossa, aqui mesmo: dentro da minha barriga. e elas estão aqui na Terra desde muito antes de o homem sonhar em ser homem. nem nunca estaríamos aqui não fossem elas.

e isso e outras coisas as tornam muito melhores do que nós, pobres seres civilizados, humanizados e "pensantes".

às vezes, penso mesmo: "queria ser uma bactéria". viver em harmonia com outras bilhões de bactérias. em perfeita simbiose com seu meio ambiente. mas queria ser dessas bactérias que não ficam se degladiando umas às outras, nem destruindo seus habitats. como, fazemos nós, seres racionais, inteligentes e superiores.

é... pensando bem, as bactérias são organismos muito superiores a nós. além de infinitamente mais civilizados.

[boop it]

11.2.04

Festa de formatura de direito.
Grande parte das minhas amigas se formando. Alegria geral misturada com nostalgia.
Daria até pra ficar triste, relembrando de todos os momentos que já passamos, das tardes de conversa, das viagens, e que tudo isso não voltará e nada será como antes. Mas não, eu estava muito feliz!
A festa foi ótima, apesar do frio. Dancei muito, apesar de praticamente só ter tocado música podre. Fiquei embriagada (de alegria), apesar de quase não ter bebido.

Alguns minutos antes eu tinha achado uma máscara no chão. Sei lá qual era o propósito, mas o fato é que havia muitas máscaras e perucas prateadas e douradas nas cabeças daqueles seres jurídicos. Deve ser pela proximidade com o carnaval.
Então, do palco, chamam as formandas para subirem e mostrarem seus dotes, dançando um pagode muito ruim. Olho para o lado e vejo a Michele Rocha com o olhar brilhando, morrendo de vontade de subir também, mas sem companhia.
- Eu vou com você, Mi.
Era brincadeira, mas ela não encarou assim. Pegou a minha mão e me puxou até o palco. Quando dei por mim estava cercada por um bando de advogadas, adequadamente vestidas para o baile e se preparando para o momento de glória.
Eu não fazia idéia de como se executava aquele ritual grotesto. Não tinha o mínimo conhecimento sobre como era a tal coreografia. Parecia uma barata tonta.
- Já que estamos aqui, vamos dançar lá na frente!
E fomos. Se já não bastasse ter subido, ficamos na comissão de fente. Fingimos que dançamos todas as 15 vezes que tocaram a música até que anunciaram a saída do palco (praticamente uma expulsão). Eu e a Mi fomos as últimas a sair porque acabamos nos empolgando nos agradecimentos. Foi uma apologia ao Balé Bolshoi. Devemos ter nos curvado umas 15 vezes, mais ou menos, agradecendo ao apoio do público caloroso.

Já no térreo, o Fernando:
- O que você estava fazendo no palco? Não era só para as formandas?
E eu, no auge de minha inocência infantil:
- Eu estava disfarçada.

Blog de uma Cucaracha

10.2.04

Era levado para a missa todo domingo e o padre disse que tudo o que pedíssemos, se fosse com fé, seria dado.
Rezei por dias para ficar invisível. Com toda minha fé. Não fiquei. Tinha uns 7, 8 anos, foi minha primeira crise de ateísmo.
O ateísmo cedeu, mas descobri um mundo de hipocrisia nas igrejas da minha cidade pequena.
Risível mesmo é aquela história em que me ouviram gritando trancado no banheiro: “Estica! Estica!”
Na verdade eu estava num ataque de hipomania e gritava Stryka, o nome de um transformer. E já tinha uns 26 anos.

saudades do presidente figueiredo

Memoria

Preciso gravar as conversas - longas - que tenho com minha mãe.

Nesse fim-de-semana fiquei um tempão perguntando e como era naquele tempo, mãe?, cês viviam de quê?, acordavam que hora?, comiam o quê?, faziam o que pra se divertir?, estudavam onde?

Ah, minha filha, naquele tempo a gente acordava 4 ou 5 da manhã, tomava um café preto e ia varrer o terreiro, botar milho pras galinhas.

E depois?

Depois, lá pelas setimeia, a gente tomava café: cuscuz com leite. Não havia pão. Aí minha mãe (sua avó) ia bordar e eu ia ter aulas com Dona Naninha. Uma mesa grande, comprida, cada aluno com sua lousa. Se errasse tinha a palmatória.

E o almoço?

Carne de criação (carneiro, bode), porco ou galinha. Pirão, arroz, feijão, farinha e ovos. Macarrão, só em dia de festa. Depois minha tia Tentença ia lavar os pratos e panelas, o que tirava a gordura era folha de velame que dava na beira do rio. Não tinha detergente. Pro jantar, gerimum com leite, batata-doce com leite, mugunzá com leite. Se fosse no inverno tinha coalhada, canjica, pamonha. Os gerimuns eram estocados em um quarto, se não se tirasse o cabo, duravam um ano inteiro. Na despensa tinha enormes baús, cheios de farinha, rapadura, feijão.

E de onde tiravam dinheiro, viviam de quê?

Da carnaúba. Da cera da carnaúba. Dois cortes por ano: a palha era posta pra secar e depois levada pro quarto da cera, passada na trincha pra soltar o pó, cozida, coada e depois de sólida, vendida para os exportadores em Fortaleza.

Se divertiam como?

Com brincadeiras e dramas.

Hein?

Brincadeira era quando minha avó chamava um sanfoneiro pra tocar no alpendre. Juntava todos os rapazes e moças da redondeza. Não tinha bebida, nada. Só dança. Drama era o que hoje se chama peça de teatro. O palco eram as portas da casa em cima de cavaletes. Vixe, a gente passava meses costurando o figurino e ensaiando. Cobrava até entrada, cê imagine. Era tão bom. (...) Coisa de menino.

Mas ói, tem que ser com a voz da minha mãe, pra eu guardar de lembrança e ouvir sempre que quiser.

Arroz-de-Leite, agora com cheiro de caju!